quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Presbíteros: O que são? O que fazem? E eu com isso?

IP do Jaraguá, domingo 03/08/2008

1ª Mensagem

Creio que todo presbiteriano ao falar com alguém sobre sua fé e sobre a sua igreja já deve ter ouvido alguma pessoa se enroscar como o nome da igreja: “presbi... o quê?”

O nome um tanto diferente desperta a curiosidade, e aí vira uma oportunidade para explicamos que o nome da igreja é por causa do seu sistema de governo, ou seja, que é uma igreja governada por um grupo de pessoas intituladas “presbíteros”.

De onde vêm os presbíteros?

“Presbítero” é um termo grego equivalente a “ancião” utilizado no Antigo Testamento que se refere à uma pessoa mais velha, o adulto, ou “aquele que possui barba”. Em Israel o ancião é, primeiramente, o chefe de uma família ou clã. Esses chefes de família formavam uma espécie de conselho da cidade, eram os responsáveis pela aplicação da Lei dada por Deus ao seu povo, julgavam os casos na porta da cidade e aplicavam a justiça (Dt 22:15; Am 5:10-12; Zc 8:16). Dentre eles alguns eram escolhidos para exercerem essa função de liderança em nível nacional (Nm 11:16-17), eles eram considerados os pastores da nação juntamente com os reis, sacerdotes e profetas (Ez 34).

A igreja seguiu essa mesma estrutura de liderança, o livro de Atos menciona que a igreja em Jerusalém era dirigida pelos apóstolos juntamente com os presbíteros (At 11:30 e cap. 15). Paulo também seguiu esse modelo estabelecendo presbíteros nas igrejas em que plantava (At 14:23; Tt 1:5). O NT se refere a eles também usando outros termos como “bispos” (Fp 1:1; 1 Tm 3:1); “guias” (Hb 13:17) e “pastores” (Ef 4:11).

A importância dos presbíteros

Os anciãos de Israel tinham um papel fundamental, zelar para que a nação não deixasse de viver em conformidade com a Lei dada por Deus ao seu povo através de Moisés. São inúmeros os textos em que Deus adverte o seu povo sobre a importância da observância da Lei, pois essa obediência determinaria a bênção ou o juízo de Deus sobre a nação. Israel falhou e foi desobediente à Lei e grande parte da culpa foi dos anciãos que não desempenharam seu papel corretamente (Pv 11:14). Esse papel fundamental fica mais claro quando vemos que a restauração de Israel passava pela restauração de anciãos fiéis (Is 1:26).

Efésios 4:11ss é um texto chave para a compreensão da importância dos presbíteros no contexto da igreja. Paulo diz que eles, como guias e superintendentes da comunidade, têm a responsabilidade de equipar os discípulos de Cristo para que os mesmos possam servir a Deus da melhor maneira, pois assim o Corpo de Cristo (a sua igreja) é edificado, ou seja, crescimento de tamanho (cada vez mais pessoas se tornando parte desse Corpo) e de maturidade em Cristo (as pessoas se tornando cada vez mais parecidas com Jesus).

Algumas conclusões

À luz da descrição que tanto o AT quanto o NT fazem podemos concluir que Presbíteros são pessoas que, na caminhada com Deus, já chegaram a um nível de maturidade em Cristo que se tornaram capazes de ajudar aqueles que estão iniciando a caminhada a desenvolverem essa mesma maturidade.

Se pensarmos em presbíteros como sendo pessoas maduras em Cristo, e não apenas como pessoas que ocupam um cargo, podemos afirmar que a vontade de Deus é que todo discípulo de Jesus se torne um presbítero, em outras palavras, alguém maduro. Assim como um pai educa seu filho para ele cresça e um dia venha a ter condições de também se tornar um pai, Deus trabalha em nossas vidas para que cresçamos na fé a ponto de termos todas as condições de desempenharmos esse papel na comunidade, ocupando ou não o cargo.

Mas, basta chegar um momento de elegermos presbíteros em nossa igreja para constarmos que poucos têm condições de ocupar cargo, e por que será? Será porque Deus não tem chamado pessoas para servi-lo?Será que Deus não tem distribuído dons em nossa comunidade? Vejo duas razões principais para isso: 1) Os discípulos de Cristo não têm sido adequadamente equipados. 2) Os discípulos de Cristo estão cada vez menos interessados em se tornarem maduros (Hb 5:12-13).

Certamente há muito o que se refletir em cima de cada uma dessas razões, mas, me atendo mais à segunda razão, me lembro de uma frase: “Envelhecer é inevitável, mas amadurecer é uma escolha”. O que tem te impedido de se tornar uma pessoa madura em Cristo? Será que você já não tem “horas/aula” suficiente de estudos bíblicos para ser alguém capaz de ensinar a outros? Só amadurece quem decide de deixar as coisas de menino, sair da zona de conforto, assumir responsabilidades e enfrentar as dores do crescimento.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

A vontade de Deus

IP do Jaraguá, domingo 22/6/2008

1º NívelO Relacionamento com Deus

Em minha ultima mensagem vimos, através do exemplo do agir de Deus na vida do apóstolo Paulo, que quando estamos andando dentro da vontade de Deus não precisamos temer as tempestades.

Mesmo depois da mensagem ainda fiquei pensando sobre essa afirmação, e sobre a mensagem como um todo, onde vimos que o mais importante na vida é estarmos vivendo dentro da vontade de Deus. Então veio ao meu coração as perguntas: Qual é a vontade de Deus? Como descobrir a vontade de Deus para minha vida? Hoje vamos iniciar uma série de meditações buscando as respostas a essas perguntas.

Os níveis da vontade de Deus

Normalmente, quando nos perguntamos sobre a vontade de Deus para nossas vidas estamos preocupados em tomar decisões corretas sobre questões bem específicas tais como: com quem casar, que carreira seguir, onde trabalhar, onde morar, onde investir, etc...

Mas, ao olharmos para o ensino geral das Escrituras sobre a vontade de Deus, vemos que ela se manifesta em níveis que vão do mais geral até o mais específico. Assim sendo, para compreendermos a vontade de Deus específica precisamos compreender os outros níveis, pois sua vontade específica estará sempre ligada à sua vontade mais abrangente.

Podemos resumir a vontade de Deus em 4 grandes níveis:

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Efésios 1:3-12

3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo. 4 Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença. 5 Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos, por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade, 6 para o louvor da sua gloriosa graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado.

7 Nele temos a redenção por meio de seu sangue, o perdão dos pecados, de acordo com as riquezas da graça de Deus, 8 a qual ele derramou sobre nós com toda a sabedoria e entendimento. 9 E nos revelou o mistério da sua vontade, de acordo com o seu bom propósito que ele estabeleceu em Cristo, 10 isto é, de fazer convergir em Cristo todas as coisas, celestiais ou terrenas, na dispensação da plenitude dos tempos.

11 Nele fomos também escolhidos, tendo sido predestinados conforme o plano daquele que faz todas as coisas segundo o propósito da sua vontade, 12 a fim de que nós, os que primeiro esperamos em Cristo, sejamos para o louvor da sua glória.

A vontade de Deus para nossas vidas, antes de qualquer outra coisa, é que nos relacionemos com ele. O texto acima de Efésios nos ajuda a compreender melhor esse nível.

1. Um relacionamento que faz parte do plano maior de Deus.

Ø A restauração da criação

Então vi novos céus e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham passado (...) Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou.

Apocalipse. 21:1-4

A Bílblia é um livro que conta uma única história, com começo, meio e fim, a história do relacionamento entre Deus e a humanidade.

A história tem início com Deus criando todas as coisas e atestando que tudo o que foi criado era bom.  O ser humano ocupa o lugar principal na criação vivendo em perfeita harmonia com Deus, com o seu próximo, consigo mesmo e com o restante da criação.

Mas, a criação se rebela contra o criador, uma rebelião que começa no céu e chega à terra.  O serees humanos representados em Adão e Eva decidem não mais viver debaixo do governo de Deus.  A consequência dessa decisão foi o rompimento da harmonia do ser humano com Deus, com seu próximo, consigo mesmo e com a criação.

Esses fatos são relatados nos 3 primeiros capítulos de Gênesis, o restante da Bíblia vai nos contar como Deus executou o seu plano para restaurar a sua criação ao estado original, incluido, principalmente, a restauração do relacionamento com os seres humanos.

Ø Através de Jesus

“Não chore! Eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos”.

Apocalipse 5:5

A rebelião do ser humano contra Deus é descrita pela Bíblia como uma ofensa e um crime, e como tal exige reparação, que o débito com a justiça divina seja quitado.  Deus deseja salvar pessoas da condenação que está sobre elas devido ao crime de rebelião, mas ele não pode pazer de conta de que esse débito não existe. 

Jesus é a solução para o problema.  Jesus, o filho amado de Deus, morreu na cruz para pagar pelo crime dos seres humanos, ele pôde fazer isso por que ele mesmo não tinha pecado, um inocente morreu no lugar dos culpados. 

Mas, Jesus venceu a morte, ele ressusucitou ao terceiro dia para oferecer aos que se arrependerem dos seus pecados os benefícios do seu sacrifício na cruz.  Ele convida pessoas a fazerem o caminho contrário ao de Adão e Eva, a saírem do estado de rebelião para o estado de submissão à Deus, pois quem fizer esse caminho desfrutará da salvação, ou seja, viverá eternamente na criação restaurada, o novo céu e a nova terra.

É vontade de Deus que nos relacionemos com Ele por que isso é parte importante do seu plano maior de restaurar a criação ao seu estado original.

2. Um relacionamento que direciona o plano maior de Deus

Ø Todas as coisas cooperam para o bem

Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito.

Romanos 8:28

Segundo o texto acima, Deus conduz a história de rumo à concretização do seu propósito, a restauração da criação (é nesse sentido que o termo "propósito" é empregado nesse texto).  E diz também que Deus age, ou direciona, todos os acontecimentos (alegres e tristes) para o bem daqueles que foram chamados segundo esse propósito.

Não determina no sentido de fazer de Deus um refém, mas direciona no sentido de Deus escolher caminhos que contribuam para esse relacionamento, que está dentro do propósito maior.

Nesse sentido, podemos dizer que ninguém está fora da vontade de Deus, todas as coisas pelas quais passamos tem a permissão de Deus, logo, se ele permitiu isso tem relação com a sua vontade primeira, pois todas as coisas cooperam para o bem dos que os amam. Como diz o cântico: "não existe nada melhor do que ser amigo de Deus".

3. Um relacionamento que está a serviço do plano maior de Deus

Ø O louvor da sua glória

No texto acima de Efésios vemos que o objetivo final de Deus com a restauração da criação é o louvor da sua glória.  Da mesma forma, conforme Romanos 1:18ss, a ira e o juízo de Deus são motivados pelo fato dos seres humanos não darem glória devida a Deus, a redenção da criação é motivada pelo louvor da glória de Deus.

Ø Deus é glorificado na demonstração da sua Graça e amor

Deus nos ressuscitou com Cristo e com ele nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus, para mostrar, nas eras que hão de vir, a incomparável riqueza de sua graça, demonstrada em sua bondade para conosco em Cristo Jesus.

Efésios. 2:6-7

Podemos afirmar que o nosso relacionamento com Deus está à serviço do seu plano maior porque Ele é glorificado ao derramar sobre nós a Sua Graça nos trazendo salvação.

Para pensar e praticar

Imagine um grande avião fazendo uma viagem internacional.  Imagine uma pequena mosca dentro deste avião voando de uma lado para o outro.  Dentro do avião ela tem a sensação de que está no controle do seu destino, afinal ela voa para onde quiser, mas ela não se dá conta que o avião está em movimento e que o destino dela está nas mãos do piloto do avião.  Assim é a nossa vida nas mãos de Deus. 

Lembremos que nesse processo, tudo aquilo que Deus permite que aconteça em nossas vidas (alegrias e tristezas) tem a finalidade de contribuir para o cumprimento da sua vontade, que aprofundemos nossa relação com ele, parte importantíssima em seu plano de restaurar a criação.

Diante de tudo isso, cabe a nós nos lembrarmos disso e colaborar com Deus no processo, buscar compreendeer o que ele está fazendo em nossas vidas e ao nosso redor e nos submetermos de boa vontade aos seus direcionamentos.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Confissão e dependência, atitudes que inspiram a busca por Deus

Domingo, 30/3/2008

Lucas 23:26-41

Jesus foi condenado injustamente por causa da atitude do povo.

Ao analisar a condenação de Jesus do ponto de vista humano/histórico, vemos que ela aconteceu por causa da vontade do povo de Jerusalém. Essa afirmação já gerou muita polêmica, principalmente por causa dos judeus. Eles reclamam dela, dizem que é uma forma de incentivar o ódio contra os judeus. De fato, ao longo da história isso aconteceu, muito do ódio aos judeus teve como base esse sentimento de vingança por causa da condenação de Jesus.

Nenhum cristão verdadeiro pode concordar com esse ódio aos judeus , até porque entendemos pela Palavra de Deus que a crucificação estava dentro dos propósitos de Deus. Porém, não deixa de ser verdade que, humanamente falando, Jesus foi condenado de maneira injusta por causa da atitude daquele povo.

Pilatos examinou as acusações e constatou que não havia motivos para condenar Jesus. Ele insiste nisso com o povo, mas eles se recusam a dar ouvidos e pedem pela crucificação. Pilatos então faz o famoso gesto de lavar as mãos como um sinal de “não tenho nada a ver com isso”. Mas, na verdade, ao condenar Jesus, ele estava aplicando a política do Império Romano para manter a paz nos territórios ocupados.

Jesus é rejeitado pelo povo por não ser o messias que eles esperavam. A expectativa do povo era que o messias fosse um líder político que os conduziria na luta contra o Império Romano para restaurar a liberdade e a glória passada da nação de Israel.

Jesus é também rejeitado por não aceitar as condições impostas pelas pessoas para que cressem nele. Elas o desafiaram a descer da cruz, a salvar-se de forma miraculosa como prova de que ele era o messias enviado por Deus. Um dos malfeitores condenado ao lado de Jesus impõe essa condição e mais a sua própria salvação para que ele cresse em Jesus. E faz isso, como os outros que disseram a mesma coisa, da forma mais ofensiva possível.

Jesus é rejeitado hoje por causa de atitudes do seu povo

Mas, hoje também Jesus é condenado, de certa forma, por causa das atitudes do seu povo, os cristãos. Muitas pessoas hoje rejeitam Jesus porque olham para a vida de muitos cristãos e não vem nelas nenhuma beleza, nada a ser admirado ou desejado. Pelo contrário, quando essas pessoas olham para a vida de alguns cristãos elas dizem “graças a Deus eu não sou cristão”.

Eu me lembro que, antes do meu encontro com Cristo, eu pensava da mesma forma. Eu me relacionava na escola com pessoas evangélicas e apenas uma tinha algumas posturas que eu admirava. Lembro-me de um rapaz crente que eu o admirava por sua ética, honestidade e coragem de viver de maneira coerente com suas crenças. Mas, era uma pessoa muito séria, que não se relacionava muito com os outros e me parecia alguém sem alegria de viver. Lembro-me de outro, um sujeito arrogante e sarcástico, alguém que tratava os outros com menosprezo e desdém, era odiado pela classe. Lembro-me também de algumas moças com problemas emocionais devido a uma vida dupla, na igreja cumpriam todas as regras, mas na escola tinham vergonha da sua condição de cristãs. Tudo isso fazia com que eu olhasse para o cristianismo e dissesse: “Deus me livre”.

É uma verdade que a fé das pessoas não pode se basear em homens, porém quando as pessoas não conseguem ver nos cristãos os benefícios que a vida com Cristo traz, a conclusão óbvia que elas chegam é que elas não precisam de Jesus, que a vida delas pode ir muito bem, e até melhor que a dos cristãos, pelas suas próprias forças. Jesus é rejeitado porque a vida daqueles que se dizem seus discípulos leva os outros a pensarem que o mestre não é tão bom o quanto dizem.

Jesus foi glorificado pela confissão e pela entrega do ladrão na cruz

Em meio às vozes de condenação e desdém, uma se levanta na direção contrária. É a voz de um bandido condenado por seus crimes, e para estar na cruz, deveriam ser crimes graves. É a voz de um bandido que, na presença de Jesus, tem os seus olhos abertos para ler com clareza aquele momento.

Ele sabe quem ele é, um malfeitor, alguém que sabe que merece aquela condenação. Ele sabia também que seu maior problema não era o sofrimento e a morte na cruz, mas era o seu encontro com Deus. Ele, provavelmente, sabia que iria se encontrar com o justo juiz, aquele que julga vivos e mortos. Ele sabia que Deus iria cobrá-lo pelos seus crimes, e que ser condenado por esse Deus era infinitamente pior que ser condenado pelos homens. Isso é o que a Bíblia chama de Temor de Deus.

Mas, ele sabia também que estava diante daquele que podia salvá-lo. Ele repreende o outro bandido, admirado e indignado com a tamanha cegueira daquele que insultava Jesus: “Nem ao menos nessa hora você teme a Deus?!”.

Sua oração é singela, quase que acanhada, como alguém que pede por algo que sabe que não merece receber: “lembra-te de mim quando entrares no teu Reino”. Uma oração de entrega, ele estava confiando seu destino eterno nas mãos de Jesus. A resposta dele é “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”.

Aquele homem glorifica a Jesus na medida em que ele se confessa um criminoso merecedor de condenação, e entrega sua vida nas mãos dele.

Jesus é glorificado quando seu povo é capaz de se declarar pecador e dependente da Graça de Deus.

Hoje acontece da mesma forma, Jesus é glorificado na medida em que os seus discípulos são capazes de se declarar pecadores e dependentes da Graça de Deus.

Quando falamos em vida bonita e atraente, temos a forte tendência de associar isso à perfeição, ou seja, pessoas que nunca se irritam no trânsito ou em casa com a família, pessoas que nunca sentem vontade de se divorciar, pessoas que nunca ficam tristes com os problemas, que sempre sabem os que fazer com os filhos, etc.

A própria Bíblia diz que, por mais que seja uma meta a ser perseguida (Mt 5:48), é impossível sermos perfeitos enquanto neste mundo, pois temos dentro de nós uma natureza que nos faz desejar intensamente tudo aquilo que é contrário à vontade de Deus (Rm 7).

Diante da impossibilidade da vida perfeita, muitos cristãos têm optado pelo caminho da falsidade, ou seja, querer passar para os outros uma imagem de perfeição irreal. Nesse processo a energia gasta é tão grande, que tem gerado pessoas emocionalmente doentes. Lembremos que “loucura” é a falta de conexão com a realidade.

As pessoas não cristãs conseguem enxergar isso, a falsidade, até porque muitas delas vivem assim. Vivemos num mundo que não acredita mais em pessoas perfeitas, vide os desenhos modernos de super heróis. Mas, quando elas encontram discípulos de Jesus que se apresentam como pessoas tão pecadoras como elas, mas que encontraram em Cristo, e através da sua igreja, o amor, aceitação e apoio, elas se sentem atraídas a conhecer o Deus dessas pessoas.

Fico imaginando se, por exemplo, Sônia e Estevam Hernandes, ao invés de adotarem essa postura de perseguidos pelo Diabo, percebessem o tratar de Deus em suas vidas e confessassem e se arrependessem dos seus pecados como isso faria bem para eles, para a sua igreja e para o avanço do evangelho.

Conclusão

A Bíblia diz que os cristãos são poemas de Deus (Ef 2:10). Logo, dependendo de como for o poema, o autor é glorificado ou rejeitado.

Jesus é glorificado não quando tentamos esconder que somos “pó do mesmo chão”, quando tentamos passar uma falsa imagem de que somos perfeitos. Ele é glorificado quando o seu amor fica evidenciado em nós.

O amor dele fica evidente em nossas vidas quando fica claro o quanto não merecemos esse amor, mas que, mesmo assim, somos amados e acolhidos por ele, e, em resposta a esse amor, procuramos viver de maneira que o agrade.

Esse amor também fica evidente quando tratamos os outros com o mesmo amor que ele nos trata. Um amor que acolhe pessoas e as convida a mudar de vida.

As condições que as pessoas impõem para crer roubam delas a oportunidade para desfrutar plenamente da nova vida em Cristo.

Domingo, 23/3/2008

As condições que Tomé impõe para crer quase roubam dele a oportunidade de desfrutar plenamente da nova vida em Cristo.

Esse episódio ocorre no contexto da ressurreição de Jesus. É preciso lembrar do quanto à crucificação mexeu com todos os discípulos. Além do abalo causado por todo o horror da violência que eles presenciaram contra alguém que eles amavam, a morte de Jesus foi um duro golpe nas esperanças deles por uma vida melhor, no sonho de ver Israel livre do Império Romano, de ver Jesus sentar-se no trono e restaurar a nação.

Os discípulos eram, em sua maioria, homens simples que um dia se encontraram com Jesus, acreditaram em sua mensagem, em sua proposta de uma nova vida e deixaram tudo para traz para segui-lo. A morte de Jesus trouxe uma profunda frustração e o risco de vida por causa da perseguição dos judeus.

Tomé, certamente, é o discípulo que mais representa essa frustração. Diante da notícia da ressurreição ele se recusa a crer novamente, agora ele impõe condições. Ele demonstra até certo desdém. Pense bem, colocar os dedos nos buracos dos pregos, por a mão na ferida da lança, ninguém falaria isso, ainda mais se tratando de Jesus, se não tivesse certeza de que isso nunca iria acontecer.

Seja o que foi que passou no coração dele, o fato é que ele coloca Deus à prova. E, colocar Deus à prova significa não confiar nele, não dar crédito à sua Palavra, e isso aborrece Deus, como aborrece qualquer pessoa que é colocada sob uma desconfiança. Tomé impõe condições para crer, o que coloca em risco a oportunidade que ele teve de se relacionar com Deus e de desfrutar da nova vida em Cristo.

As condições que as pessoas impõem para crer roubam delas a oportunidade para desfrutar plenamente da nova vida em Cristo.

A atitude de Tomé até hoje é muito lembrada, até virou um ditado popular: “Sou como São Tomé, só acredito vendo”. Mesmo sendo uma atitude digna de reprovação, ela continua sendo a marca de muitos cristãos hoje em dia. Isso é demonstrado na sede que as pessoas têm pelo milagre e pelo sobrenatural, o que tem levado muitos a uma fé superficial, a um relacionamento doente com Deus e a serem vítimas de pessoas desonestas que exploram a boa fé do povo em nome de Deus.

Dentro disso, tem uma frase muito usada por muitos cristãos que demonstra o quanto as pessoas impõem condições para crer, e, conseqüentemente, demonstra essa fé superficial e doente, a frase é “não aceito!”

Ensinaram a essas pessoas que todos os problemas da vida (enfermidades, falta de dinheiro, crises conjugais, chefe chato, etc) são culpa do diabo que age na vida daqueles que não têm fé. A outra face da moeda é que, se você é um filho de Deus, se você tem fé, passar por problemas é algo inaceitável. Da mesma forma que um consumidor não pode aceitar um produto com defeito e, caso isso aconteça, deve reclamar com o fabricante, o cristão, segundo essa lógica, não pode aceitar de Deus uma nova vida com “defeitos”, se isso acontecer ele deve reclamar com Deus e exigir seus direitos de “filho do Rei”.

No fundo é a mesma lógica do Tomé, Deus só merece confiança se ele, a todo o momento, provar que a merece resolvendo todos os problemas das pessoas através de milagres e manifestações sobrenaturais, mesmo que as necessidades sejam tão descabidas quanto o colocar o dedo nos buracos dos pregos e mão no ferimento da lança.

Um pastor contou que certa vez foi visitar uma pessoa já avançada em idade num hospital. Chegando lá ele encontrou outro pastor dessa linha de pensamento. Enquanto o primeiro pastor buscava trazer uma palavra de conforto e esperança para aquela pessoa, membro de sua igreja à vários anos, o outro pastor insistia na idéia do “não aceito” e que era preciso reivindicar de Deus a cura para aquele irmão. O outro pastor respondeu que eles não precisavam reivindicar nada de Deus, afinal eles eram filhos, e um filho não precisa reivindicar nada de seu pai, pois ele sabe que seu pai lhe ama e cuida dele da melhor maneira possível. Por outro lado, continuou o pastor, quem precisa reivindicar direitos são os bastardos, eles não se sentem filhos, não são amados pelo pai, precisam lutar para serem reconhecidos como filhos. Segundo a Palavra, esse não é o caso dos filhos de Deus.

Mas, os “Tomés” modernos estão em toda a parte, impondo condições para confiarem e amarem a Deus, e com isso construindo uma fé frágil e doente, deixando de desfrutar plenamente da nova vida em Cristo.

Jesus se aproxima e faz com que Tomé e os discípulos passem a enxergar o que é mais importante na relação com Deus.

Graças a Deus por ele não nos tratar da mesma forma que tendemos a lidar com as pessoas. Se eu estivesse no lugar de Jesus, possivelmente eu teria riscado Tomé da minha lista de discípulos em resposta à sua incredulidade.

Mas, Jesus não faz isso, pelo contrário, ele vem até Tomé. Ele aparece no meio dos discípulos, saúda a todos, mas vai tratar diretamente com Tomé, até mesmo se dispõe a atender o pedido dele oferecendo suas feridas para que ele as tocasse como havia dito.

A reação de Tomé ao ato de Jesus é o reconhecimento de quem é Jesus, uma resposta de fé. Mas, percebe-se que não é uma resposta alegre como foi a dos outros discípulos, mas uma resposta misturada ao constrangimento, algo do tipo “Ai, foi mal, dei mancada”.

Jesus demonstra misericórdia para com Tomé também através de sua exortação a ele: “Pare de duvidar e creia (...) Felizes são os que não viram (como você) mas creram”. Jesus não atende ao pedido de Tomé porque foi desafiado, ou porque precisava provar qualquer coisa a ele ou a quem quer que seja. Jesus vem a Tomé por amor, e por amor ele expõe ao próprio Tomé o quanto sua postura estava errada e o repreende para que ele aja mais daquela forma.

O texto termina, pegando um gancho na história, de que os milagres de Deus têm um propósito maior do que simplesmente resolver o problema imediato das pessoas. Os milagres são sinais de Deus que apontam para a necessidade que o ser humano tem de Salvação e que o único caminho para isso é Jesus.

Jesus se aproxima e nos faz enxergar o que é mais importante na relação com Deus.

Eu já vi pessoas que experimentaram milagres e manifestações sobrenaturais de Deus. Quando isso acontece vejo que as pessoas são impactadas e quebrantadas, mas na vida de muitas esse efeito passa muito rápido, logo voltam a se tornarem frias e distantes de Deus.

Me lembro de uma vez estar num acampamento onde havia um grupo de pessoas que resolveu buscar a Deus, vamos dizer assim, com mais fervor. Isso gerou um clima meio estranho no acampamento. Para se ter uma idéia, o grupo se retirava no momento da Palavra para orar para que Deus falasse com as pessoas, mas o barulho que eles faziam orando atrapalhava as pessoas de ouvirem a mensagem.

Mas, o que me marcou nessa ocasião foi um grande amigo dizer que já havia passado por experiências sobrenaturais com Deus, mas que, nos momentos de dificuldade, não foram àquelas experiências que fizeram a diferença na hora de enfrentar as crises.

O nosso Deus não muda, ele é o mesmo ontem, hoje e sempre. A Palavra também nos diz que o mesmo poder que ressuscitou Jesus dentre os mortos opera em nossas vidas (Ef 2:6). Ele faz milagres hoje também, ele intervém na nossa história por meios naturais e sobrenaturais. Temos a liberdade de nos aproximar Dele e pedir pelo milagre, crendo que ele nos ouve e que ele pode todas as coisas. Mas, precisamos nos lembrar sempre de algumas verdades importantes.

Primeira, milagre não é regra, é a exceção, caso contrário não seria milagre. Deus criou as leis da vida para serem respeitadas. Deus deu entendimento aos seres humanos que o usem no enfrentamento dos problemas. Por exemplo, às vezes ficamos esperando soluções milagrosas para problemas que Deus nos desafia a resolver com mudanças de mentalidade e comportamento. É o princípio de se colher o que se planta.

Segunda, precisamos nos lembrar sempre de que Ele é o Senhor e nós os servos, logo, a palavra final é dele. Muitas vezes nos colocamos na posição do personagem do filme “Todo Poderoso” e questionamos a capacidade de Deus em executar o seu trabalho. Quase chegamos a pleitear a o cargo de conselheiros de Deus, como se Deus precisasse dos nossos conselhos sobre como ele deve governar o universo. Aqui somos confrontados sobre nossa confiança tanto na capacidade quanto no caráter de Deus.

Terceira, precisamos nos lembrar que o jantar ainda está sendo preparado, e que agora estamos experimentado apenas os aperitivos. Os milagres são sinais que apontam para uma realidade futura. Quando Deus traz, por exemplo, uma cura é para colocar em nós o desejo pelo novo céu e a nova terra onde não haverá mais a enfermidade, nem a dor, nem o choro e nem a morte.

Por que sofremos? Por que um dia o ser humano virou as costas para Deus e atraiu sobre si todas as desgraças decorrentes disto. Portanto, enquanto nesse mundo estamos todos sujeitos ao sofrimento, à injustiça, à violência, à enfermidade e até mesmo à morte. Mas, quando Jesus morreu e ressuscitou Deus resolveu esse problema, e vamos experimentá-la não aqui, mas na glória eterna.

Conclusão

Não deixemos de enxergar e de experimentar de todo o potencial que a nova vida em Cristo nos traz por causa de expectativas erradas que colocamos sobre Deus.

A busca pelo milagre é legitima porque nos relacionamos com um Deus que nos ama e que tem todo o poder. Temos a liberdade de colocar para ele os nossos desejos.

Mas, não nos esqueçamos de quem é o servo e quem é o Senhor nesta relação. Não o afrontemos colocando o seu poder ou o seu caráter à prova, como se ele fosse um qualquer que não tem Palavra.

Ajustemos o foco das nossas vidas no sentido de nos prepararmos para a eternidade.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Cuidados necessários para a preservação do casamento

Mensagem do casamento da Sabrina e Gustavo – 15/3/2008

Certa vez um pastor fez um levantamento sobre os casamentos que havia feito. Ele ficou bastante frustrado pois havia constatado que quase metade daqueles casais haviam se separado.

Diante dessa estatística, ele reuniu os casais de sua igreja e contou a eles sobre o seu levantamento. O pastor começou a dizer, com base nas estatísticas, que, daquele grupo ali reunido, muito provavelmente metade iria se separar nos próximos 5 anos, pelos mais variados motivos listados por eles.

Todos ficaram um tanto assustados com aquela previsão sombria. Então o pastor disse: “precisamos então, desde já, tomar os cuidados necessários para evitar esse prognóstico”.

Seguindo a mesma idéia desse pastor, quero conversar com vocês sobre o grande mal que destrói o casamento e como evitá-lo.

Mateus 19:1-12

Quando o coração está endurecido, qualquer motivo é motivo.

Um dos grandes obstáculos que Jesus enfrentou durante seu ministério foi a oposição dos líderes religiosos de sua época. Esses líderes, movidos pela inveja, sempre tentavam encurralar Jesus na expectativa de que ele caísse em alguma contradição para o desqualificarem perante o povo.

Nesse texto, os líderes religiosos tentam colocar Jesus no meio de uma discussão que havia na época, uma disputa que havia entre duas escolas rabínicas sobre a interpretação da lei sobre divórcio em Dt 24:1-4.

Se um homem casar-se com uma mulher e depois não a quiser mais por encontrar nela algo que ele reprova, dará certidão de divórcio à mulher e a mandará embora. Se, depois de sair da casa, ela se tornar mulher de outro homem, e este não gostar mais dela, lhe dará certidão de divórcio, e a mandará embora. Ou se o segundo marido morrer, o primeiro, que se divorciou dela, não poderá casar-se com ela de novo, visto que ela foi contaminada. Seria detestável para o SENHOR. Não tragam pecado sobre a terra que o SENHOR, o seu Deus, lhes dá por herança.

A escola do rabino Shamai defendia que a expressão “algo que ele reprova” se referia ao adultério, logo o único motivo aceitável para o divórcio. A escola de Hilel defendia que a expressão se referia a qualquer coisa que desagradasse o marido, como por exemplo, ser má cozinheira.

Na resposta de Jesus ele deixa muito claro que a questão central da discussão não é o motivo em si, mas sim o quanto as pessoas estariam dispostas a enxergar o casamento do jeito que ele foi planejado por Deus. Jesus reafirma o plano de Deus para o homem e a mulher: que ambos deixem pai e mãe e se unam numa relação de harmonia e intimidade, uma fonte de alegria e realização para os dois.

Essa falta de disposição em aceitar o plano de Deus Jesus chama de “dureza de coração”, ou seja, uma teimosia persistente, conhecida popularmente como má vontade. A lógica de Jesus é que quando há má vontade qualquer motivo é motivo para acabar com o casamento. E que Deus permitiu o divórcio para não condenar, principalmente às mulheres, a uma convivência perversa com uma pessoa dura de coração.

Quando o coração está endurecido o outro é tratado como um ser descartável.

Stephen Kanitz, escreveu um texto muito interessante sobre casamento[1]. Ele conta que, ao completar 30 anos de casado ouviu de muitas pessoas a frase: “coisa rara hoje em dia”. Ao olhar para seus amigos de infância ele constatou que 40% deles já haviam se separado.

Refletindo sobre isso, Kanitz afirma que a frase mais importante do casamento, “vou amar você para sempre”, tem sido muito banalizada, e que, na verdade, o que as pessoas estão dizendo é: “prometo amar você enquanto uma pessoa mais interessante não aparecer”.

Me lembro também do casamento da Adriane Galisteu com o Roberto Justus. Me lembro que no meio da festa o repórter perguntou a ela: “até que a morte os separe?” E ela respondeu: “não, enquanto eu estiver feliz”.

Talvez você esteja pensando: “mas, não está certo? Vale a pena viver infeliz ao lado de uma pessoa?” O problema por traz dessa mentalidade é lidar com as pessoas como seres descartáveis, como a embalagem de um produto que, após eu consumir o seu conteúdo, ela é descartada.

Quando o coração está aberto não banalizamos o que Deus criou.

Se a dureza do coração é o grande mal que destrói casamentos, o contrário é igualmente verdadeiro. O grande desafio de Jesus é “não banalize aquilo que Deus criou com tanto carinho”. Jesus nos convida para olhar para a forma como ele criou o ser humano. Ele nos fez de forma que o que nos realiza é amar e sermos amados, e que o melhor espaço para se cultivar o amor é o casamento.

Um famoso teólogo alemão chamado Dietrich Bonhoeffer escreveu para sua sobrinha que iria se casar que não era o amor que sustentava o casamento mas sim o casamento que sustentaria o amor.

Quando o coração está aberto conseguimos enfrentar as dificuldades da vida sem abrir mão do compromisso com o outro.

Kanitz, em seu artigo sobre o casamento diz algo semelhante a Bonhoeffer, ele diz que os noivos deveriam dizer um para o outro algo assim: "Eu sei que nós dois somos jovens e que vamos viver até os 80 anos de idade. Sei que fatalmente encontrarei centenas de mulheres mais bonitas e mais inteligentes que você ao longo de minha vida e que você encontrará dezenas de homens mais bonitos e mais inteligentes que eu. É justamente por isso que prometo amar você para sempre e abrir mão desde já dessas dezenas de oportunidades conjugais que surgirão em meu futuro. Não quero ficar morrendo de ciúme cada vez que você conversar com um homem sensual nem ficar preocupado com o futuro de nosso relacionamento. Nem você vai querer ficar preocupada cada vez que eu conversar com uma mulher provocante. Prometo amar você para sempre, para que possamos nos casar e viver em harmonia".

Em outras palavras, o grande desafio é o de assumir um compromisso com o outro de continuar amando apesar das várias dificuldades que serão enfrentadas ao longo vida. E para manter esse compromisso é preciso de muita boa vontade, o que inclui perdoar, dialogar, abrir mão, reconhecer os próprios erros e sempre estar disposto recomeçar.

Fazer isso não é fácil, por isso precisamos estar conectados à fonte do amor verdadeiro, àquele que não poupou nem ao Seu próprio Filho por amor àqueles a quem ele quer bem.


[1] Você o encontra no site do autor WWW.kanitz.com.br, “O Contrato de Casamento”

quarta-feira, 19 de março de 2008

Dons do Espírito Santo. O que são e para que servem?

Efésios 4:7-16

Em nossas meditações sobre a Pessoa e a Obra do Espírito Santo já vimos que:

  • O Espírito Santo é uma pessoa, a 3ª. Pessoa da Trindade, não simplesmente uma força ou uma forma como Deus se manifesta.
  • O Espírito Santo é a presença renovada de Deus entre o seu povo, e que ele ocupa hoje o mesmo lugar que Jesus ocupava na vida dos discípulos de sua época.
  • O Espírito Santo tem como objetivos principais produzir a conversão de pessoas, conectá-las ao corpo de Cristo (Unidade) e lapidá-las para que se tornem cada vez mais parecidas com Jesus (Os frutos do Espírito).

Note que os objetivos principais do Espírito se casam perfeitamente com a Grande Comissão (Mt 28:18-20) de Jesus à sua igreja: Ir e fazer discípulos, batizando-os e ensinando-os a guardar todas as coisas que ele ordenou.

Tendo isso claro em nosso entendimento passamos a olhar para a maneira como o Espírito realiza essa obra, o que nos leva a entrar num dos assuntos mais controvertidos no meio do cristianismo: os dons e as manifestações do Espírito Santo.

Para esclarecer dúvidas e mal entendidos sobre esse assunto nada melhor do que irmos direto à fonte, a Palavra de Deus, e fazer as perguntas necessárias.

1. O que são e para que servem os dons do Espírito Santo?

E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado... (vs. 11-12)

Dom, como o próprio termo diz, é algo que nos dado, algo que recebemos de graça, por causa da Graça de Deus. Dons espirituais são capacidades dadas por Deus aos seus filhos que os qualificam para a realização de funções em Sua obra, a edificação do corpo de Cristo.

Essas capacidades, muitas vezes, estão ligadas aos chamados talentos “naturais”, ou seja, a facilidade que uma pessoa tem para realizar algo em determinada área, aquilo que a pedagogia moderna classifica como múltiplas inteligências. Apesar de serem chamados de naturais, esses talentos são dados por Deus a todos, mesmo para aqueles que não são seus filhos (Tg 1:7; Ex 31:3-5).

Ao olharmos para a história do povo de Deus na Bíblia vemos muitos exemplos de como Deus trabalha na vida das pessoas cuidando para que elas recebessem uma formação ou para que desenvolvessem talentos que, mais tarde, com o chamado, se tornariam parte importante da capacitação para o ministério. Exemplos: Moisés, Davi e Paulo.

Mas, nem sempre, os dons estão ligados aos talentos naturais, por exemplo, um cristão pode ter uma formação em pedagogia, ser um bom profissional na área do ensino, mas não ter o dom espiritual do ensino. Essa pessoa pode até ter a capacidade de expor conceitos bíblicos mas não tem capacidade para edificar alguém, pois lhe falta o dom. O contrário também é verdadeiro, uma pessoa que não tem uma formação acadêmica, que provavelmente não teria capacidade de estar na sala de aula de uma escola convencional, pode ser um valioso instrumento de Deus para edificação do corpo dando aulas na Escola Dominical.

Em suma, um talento natural tende a ser uma parte importante da qualificação de alguém para o exercício de uma função na obra de Deus, é algo que deve ser levado em conta ao se buscar identificar qual o papel dessa pessoa no corpo, porém não é uma regra absoluta.

2. De onde vêm os dons e a quem eles são dados?

...um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos. E a cada um de nós foi concedida a graça, conforme a medida repartida por Cristo (...) E ele designou alguns para... outros para... (VS. 6-11).

Há diferentes tipos de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há diferentes tipos de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diferentes formas de atuação, mas é o mesmo Deus quem efetua tudo em todos. (1 Co 12:4-6)

Todas essas coisas, porém, são realizadas pelo mesmo e único Espírito, e ele as distribui individualmente, a cada um, como quer. (1 Co 12:11)

A reposta óbvia a essa pergunta seria: “do Espírito”, e está correta, mas nos chama a atenção nos textos acima a participação ativa das 3 pessoas da Trindade no processo de distribuição dos dons.

Mas, o mais importante a se destacar é o fato de que os dons são frutos da Graça, ou seja, eles não são conquistados pelas pessoas, eles não são dados por causa dos méritos das pessoas, eles não sinais de que a pessoa é mais santa. A distribuição dos dons é uma prerrogativa exclusiva de Deus, e os critérios que ele usa para essa distribuição é simplesmente a sua vontade soberana.

Em 1 Co 12:31, Paulo diz para buscarmos com zelo os melhores dons, tender o contrário, que os dons são resultado do nosso esforço pessoal em buscá-los. Mas, à luz do contexto, vemos que não é isso. Essa expressão significa que precisamos nos dedicar em entender quais são os dons que Deus me deu e usá-los da melhor maneira e não ficar ressentido porque não temos o dom que o outro irmão tem.

Os melhores dons são aqueles que mais contribuem para a edificação do Corpo de Cristo. Logo, quando estamos servindo a partir dos dons que nos foram realmente dados por Deus e não a partir daqueles que achamos mais “bonitos”, somos instrumentos mais eficazes no processo de edificação do Corpo de Cristo.

Uma das evidências mais fortes de que os dons são frutos da Graça na vida do cristão é o fato deles serem distribuídos a todos os discípulos sem exceção. Vimos no textos a várias afirmações de que Deus age por meio de todos, e também que a cada um dos cristãos foi dado pelo menos um dom. Isso nos faz lembrar da parábola dos talentos, que nos desafia a colocarmos aquilo que o Senhor nos deu ao Seu serviço, pois ele nos pedirá contas disso.

3. Por que os dons geram tanta confusão?

Se os dons são frutos da Graça, distribuídos pela Trindade a todos os seus filhos com o propósito de edificar o Corpo de Cristo, porque há tanta confusão envolvendo o assunto?

A igreja de Corinto nos oferece um estudo de caso bem interessante. É uma igreja onde vemos que havia uma grande variedade de dons e manifestações tremendas do Espírito Santo. No entanto, veja como Paulo se refere àquela igreja:

Irmãos, não lhes pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a crianças em Cristo. (1 Co 3:1)

Paulo se refere a eles dessa maneira justamente pelos problemas que haviam na igreja devido à essa questão dos dons do Espírito. O famoso capítulo 13 de 1 Corintios é a resposta de Paulo para a solução do problema, aquilo que ele chama de “caminho sobremodo excelente”:

Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine. Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover montanhas, se não tiver amor, nada serei.  Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me valerá. (1 Co 13:1-3)

Dons e manifestações do Espírito geram confusão na medida em que as pessoas que buscam ou exercem seus dons se esquecem do seu objetivo principal, a edificação do Corpo, que só é possível na medida em que as pessoas exercem seus dons motivadas pelo amor, a Deus e às pessoas a quem servem.

Não é incomum vermos pessoas servindo com motivações distorcidas. Pessoas podem servir no Corpo movidas pela vaidade, ou movidas pelo desejo de controlar as pessoas, ou de se auto-afirmar, ou de compensar carências e frustrações. Seja o que for, quando a motivação não é o amor há problemas. Normalmente essas motivações distorcidas se manifestam nos problemas de relacionamentos. A pessoa tem capacidades para o serviço no entanto ela não consegue se relacionar de forma saudável, isso impede o exercício dos seus dons.

Diante disso, lembremos de que dons não são sinais de espiritualidade, mas a forma como eles são utilizados sim. Um sinal de uma verdadeira espiritualidade é o servir de maneira amorosa.

Para pensar e praticar...

Dons espirituais são presentes de Deus, são fruto da sua graça. Não são indicativos de quem é mais ou menos espiritual.

O indicativo de quem é mais ou menos espiritual não está nos dons que possui, mas sim na forma como são usados.

Devem ser usados com amor, com o propósito de edificar o Corpo de Cristo.

sábado, 15 de março de 2008

Unidade, mais do que um luxo, um artigo de primeira necessidade para a vida cristã.

Efésios 4

Uma qualidade de um bom administrador é a sua capacidade de diferenciar bem aquilo que é supérfluo daquilo que é essencial. Esse princípio vale tanto para o administrador de uma empresa quanto para quem administra sua própria casa.

Por exemplo, uma família tem uma determinada renda, aí todos se sentam e vão decidir como gastar aquele dinheiro, vão fazer o seu orçamento doméstico. Ao fazer o orçamento a família vai definir o que é mais e o que é menos importante, e, conseqüentemente, vão usar a maior parte do dinheiro para aquilo que é mais importante e o que sobrar vai para o que é menos importante. Ao cultivar essa prática saudável, a família aproveita melhor a sua renda e, conseqüentemente, vive melhor.

Esse princípio também se aplica para a administração da nossa espiritualidade. Uma relação com Deus saudável é construída na medida em que, ao longo da vida, sabemos diferenciar aquilo que é supérfluo daquilo que é essencial para o crescimento da nossa relação com Deus.

Algo que é essencial para o desenvolvimento da relação com Deus, mas que muitos cristãos tratam como algo supérfluo, é a UNIDADE.

Alguns ensinos sobre a Unidade

1. Unidade é a comunhão entre os cristãos

Há um só corpo e um só Espírito, assim como a esperança para a qual vocês foram chamados é uma só; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos. (VS 4-6)

Unidade é um termo que pode ser usado para descrever a qualidade do relacionamento entre pessoas, ou seja, o nível de ligação, de comprometimento e de harmonia que existe entre elas. No caso dos cristãos essa ligação, harmonia e comprometimento entre eles se devem ao fato deles terem em comum o mesmo Senhor, a mesma fé e a mesma esperança. Esse nível de ligação é comparado ao das partes de um mesmo corpo, o corpo do próprio Cristo.

2. Unidade é resultado da ação do Espírito Santo

Façam todo o esforço para conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. (VS. 3)

Ligação, harmonia e comprometimento podem estar presentes em grupos de amigos, em companheiros de um mesmo time, em famílias, mesmo as pessoas não sendo cristãs, porém a comunhão cristã é algo diferenciado, pura e simplesmente porque o aquilo que os cristãos têm em comum é diferenciado, o Deus eterno, que habita neles e age por meio deles. Logo, é possível ter uma ligação com pessoas por causa de afinidades ou objetivos em comum, mas, comunhão cristã só é possível se for resultado da ação do Espírito Santo na vida das pessoas que faz com que elas passem a fazer parte do corpo de Cristo, devidamente conectadas às outras partes.

3. Unidade é um artigo perecível

No mesmo versículo Paulo nos mostra que a unidade é um artigo perecível, ou seja, algo que, se não conservado adequadamente, pode se estragar. E, conservar a unidade, requer esforço.

Nesse texto, Paulo aponta para aquilo que tem o maior poder para estragar a unidade, a nossa própria natureza humana

Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade. (VS. 22-24).

Paulo se refere à natureza humana usando as expressões “antiga maneira de viver” e “velho homem”. Ele usa essas expressões porque está comparando o estilo de vida de pessoas que pertencem à Cristo com o de pessoas que não pertencem a Ele. Segundo o próprio Paulo (Rm 1:18ss, e outros textos) a pessoa desconectada de Cristo é guiada pelos impulsos da sua própria natureza humana, uma natureza corrompida pelo pecado. Essa falta de conexão com Cristo expõe com muita força e clareza essa condição humana corrompida, que se manifesta na maneira com o sentimos, como pensamos, como falamos e como agimos

O próprio texto de Efésios 4 nos dá alguns exemplos da manifestação dessa natureza humana corrompida:

Sentimentos e pensamentos

  • A Soberba, ou falta de humildade, que é o não reconhecimento do valor do outro.
  • A ira, que se transforma em amargura, que endurece o coração
  • A falta de amor, a falta de paciência, que se manifestam em indiferença ou em maldade.
  • A imaturidade

Palavras e atitudes

  • A Gritaria, a atitude popularmente conhecida como “barraco”
  • A calúnia, a mentira, a palavra torpe, que denigre a imagem de alguém, que a diminui como pessoa.
  • A falta de perdão, o melindre

Fatores que contribuem para a preservação da unidade

Como prisioneiro no Senhor, rogo-lhes que vivam de maneira digna da vocação que receberam. (vs. 1)

...vocês foram ensinados a despir-se do velho homem (...), a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade. (vs 22-24)

Se o fator determinante para o perecimento da unidade é a natureza humana corrompida, conhecida biblicamente como o “velho homem” , o fator determinante para a sua preservação da unidade é uma natureza humana regenerada, conhecido biblicamente como “novo homem”.

A Bíblia ensina que, quando uma pessoa se entrega a Cristo isso é resultado da ação do Espírito Santo em sua vida, e quando isso acontece, por meio do Espírito, uma nova vida é implantada dentro dela. Mas, a velha natureza corrompida não é totalmente removida, ela passa a conviver com a nova natureza, como se duas pessoas ocupassem o mesmo corpo. Daí o cristão tem a responsabilidade de escolher qual das duas naturezas vai governar sua vida. Por isso Paulo faz o desafio, “vivam de acordo com a sua nova natureza”.

Um desafio que se manifesta em atitudes bem práticas

1. Renovar o modo de pensar

O mundo em que vivemos tem uma forte influencia sobre a nossa natureza corrompida, influência que se dá através dos vários estímulos que alimentam o mal dentro de nós. E uma das formas de estimular o mal em nós é condicionar nossa forma de pensar com idéias contrárias aos princípios de Deus.

Por exemplo, desde que éramos crianças ouvimos de pessoas próximas ou através dos programas de TV, dos filmes, das músicas, frases do tipo: “não leve desaforo para casa”, “homem não chora”, “o mundo é dos espertos”, “segure as suas cabritas porque os meus bodes estão à solta”, “todos os caminhos levam a Deus”, etc. Frases como essas que têm princípios embutidos que vão criando padrões na nossa mente que usamos para lidar com as pessoas e as situações da vida, e, muitas vezes não nos damos conta disso.

O desafio de viver de modo digno da vocação que recebemos de Jesus traz embutido esse convite a uma mudança de mentalidade. O texto nos dá exemplo. Aquele que acreditava que mentir era a melhor forma de resolver seus problemas é convidado a não apenas abandonar a mentira, mas a assumir um estilo de vida baseado na verdade. Aquele que acreditava no roubo como solução é convidado a enxergar que é melhor contribuir com os outros do que retirar dos outros (VS 25-32).

2. Comprometer-se com a busca pela maturidade

Como diz um amigo meu, envelhecer é inevitável, mas amadurecer é uma escolha. Esse é um bom princípio para qualquer área da vida (emocional, profissional, etc.), mas em especial para a espiritualidade e por uma razão simples, é vontade de Deus (VS 13-16). O propósito de Deus em nossas vidas não se limita em apenas nos salvar ou nos dar alívio para as nossas dores, ele tem como objetivo maior fazer de nós pessoas mais parecidas com Jesus.

Diante disso podemos contribuir com o processo ou não. Não é possível nos tornarmos pessoas mais parecidas com Jesus por nossa própria força e vontade, isso é possível somente por meio da ação do Espírito Santo, porém Deus nos convida a agirmos com responsabilidade no processo, o que implica em estarmos sensíveis ao mover do Espírito e estarmos dispostos a obedecê-lo.

3. Seguir a verdade em amor (VS 15)

Até agora já falamos sobre o que é unidade, sobre o que estraga a unidade, e, até aqui sobre o que preserva a unidade. Mas, você pode estar se perguntando: “por que unidade é um artigo de primeira necessidade na vida cristã”. Acreditem, muitas pessoas têm feito essa pergunta. É cada vez mais comum encontrarmos cristãos que não acreditam mais em unidade, que consideram a comunhão supérflua e descartável. Normalmente são pessoas que já sofreram ou viram pessoas próximas sofrerem grandes decepções na relação com os irmãos em Cristo.

Mas isso tudo, por mais verdadeiro que seja, não muda o fato de que, no projeto de espiritualidade segundo Deus, a comunhão com os irmãos é uma peça fundamental. O projeto de Deus é formar uma família, onde ele é o Pai e Jesus é o filho mais velho de muitos irmãos (Rm 8:29).

Essa razão já deveria bastar para um cristão, porém há mais razões que quando compreendidas nos ajudam a lidar melhor com as dificuldades da comunhão. Se o objetivo principal de Deus é fazer dos seus filhos pessoas mais parecidas com Jesus, a comunhão é a grande oficina de Deus onde ele realiza essa obra.

É em meio ao relacionamento com pessoas que nosso caráter se desenvolve. É lidando com as pessoas, com suas virtudes e defeitos, que aprendemos o significado do amor, da paciência, da bondade, do domínio próprio (Gl 5:22), das virtudes cristãs em geral. Principalmente, quando aprendemos a amar segundo o padrão de Deus nossos olhos se abrem para a compreensão dos seus mistérios.

Precisamos nos lembrar que Deus abençoa pessoas, na maioria das vezes, através de outras pessoas, porque ele está em todos os seus filhos e age por meio de todos eles. Deus deu dons às pessoas para que elas fossem instrumentos dele para nossa edificação e vice-versa.

Conclusão

Unidade não é uma invenção humana ela é resultado da ação do Espírito. Ela é fundamental no processo de Deus, de nos fazer pessoas mais parecidas com Jesus.

Ela é um artigo perecível, pode ser estragada pelas “bactérias” da nossa natureza humana corrompida. Ela é conservada através do nosso esforço em vivermos de acordo com nossa nova natureza redimida.

Se para você unidade é algo supérfluo certamente você não tem estado sensível ao mover do Espírito Santo, pois, como seria possível o autor da unidade não te conduzir a ela?

Converse com Deus sobre isso, se abra para novas conexões com os irmãos, procure estar com eles e deixe o Espírito produzir a unidade.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Desfazendo mal entendidos sobre a Pessoa e a Obra do Espírito Santo

No ano passado senti no coração o desafio de falar sobre o Espírito Santo. E por quê? Por olhar para as minhas próprias limitações e para as nossas limitações como povo em viver de maneira que agrade a Deus. E ao refletir sobre essas limitações sou constantemente levado à oração: “Senhor, tem misericórdia de nós! A começar em mim, derrama o Teu Espírito sobre nós, nos curando das nossas feridas e pecados e nos capacitando para vivermos de maneira que traga alegria ao Teu coração e fazendo de nós instrumentos para que a Tua Salvação alcance aqueles que precisam.”

Junto com esse anseio veio o desafio de buscar entender melhor como Deus responde a uma oração como essa. A busca deste entendimento se faz necessária devido à enorme confusão que há sobre a Pessoa e a Obra do Espírito Santo no meio das igrejas cristãs. Por exemplo, o movimento pentecostal ou carismático buscou resgatar a importância da presença do Espírito, junto com suas manifestações, como expressão de uma fé autêntica. No entanto muitos foram para extremos, cultivando práticas e elaborando ensinos completamente distorcidos do ensino da Palavra. Por outro lado, as igrejas tradicionais adotaram uma postura de repúdio a esses exageros e, muitas vezes, acabaram caindo no extremo oposto repudiando também expressões legítimas da manifestação do Espírito.

O resultado dessa busca foi uma série de mensagens na IP do Jaraguá, uma série que ainda precisa ser completada, pois minha busca ainda continua, e continuará até mesmo quando a série estiver completa, afinal estamos falando das coisas do Eterno Deus, aquele cuja riqueza e sabedoria são profundas e insondáveis (Rm 11:33).

Ensinos das Escrituras que desfazem mal entendidos sobre a Pessoa e a Obra do Espírito Santo.

1. O Espírito Santo é Deus, a 3ª. Pessoa da Trindade

João 14:

16  E eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Conselheiro para estar com vocês para sempre, 17 o Espírito da verdade. O mundo não pode recebê-lo, porque não o vê nem o conhece. Mas vocês o conhecem, pois ele vive com vocês e estará em vocês. (...) 25 Tudo isso lhes tenho dito enquanto ainda estou com vocês. 26 Mas o Conselheiro, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, lhes ensinará todas as coisas e lhes fará lembrar tudo o que eu lhes disse.

O Espírito Santo não é simplesmente a força, ou o poder de Deus que age na vida das pessoas, e também não é uma das formas como Deus se apresenta. O Espírito Santo é uma pessoa distinta do Pai e do Filho, porém da mesma natureza divina. A expressão “outro Conselheiro”, usada por Jesus em João 14, indica que aquele a quem o Pai enviaria seria uma pessoas distinta, mas que possuiria a mesma natureza e autoridade do próprio Cristo.

A Trindade é um mistério, porém parte deste mistério é revelado nas Escrituras, o que nos convida a um estudo profundo das mesmas para compreendermos melhor esse aspecto da natureza de Deus que tem muito a nos ensinar. Mas, podemos resumir afirmando que as três pessoas divinas, Pai, Filho e o Espírito Santo (em nome de quem somos batizados e recebemos a bênção), possuem uma relação tão íntima e tão perfeita a ponto de serem consideramos como um único Deus.

À luz deste ensino das Escrituras, desfaz-se um primeiro mal entendido. O Espírito Santo não é uma “força”, ou meramente uma forma da manifestação de Deus. Ele é Deus, mas não é o Pai, nem o Filho, é uma 3ª. Pessoa. Sendo uma pessoa, e não uma “força”, ele não pode ser manipulado. A presença do Espírito em nossas vidas não se resume a um poder que temos, mas uma pessoa com quem nos relacionamos.

2. O Espírito Santo é a presença renovada de Deus

Atos 2

14 Então Pedro levantou-se com os Onze e, em alta voz, dirigiu-se à multidão: “Homens da Judéia e todos os que vivem em Jerusalém, deixem-me explicar-lhes isto! Ouçam com atenção: 15 estes homens não estão bêbados, como vocês supõem. Ainda são nove horas da manhã! 16 Ao contrário, isto é o que foi predito pelo profeta Joel: 17 ‘Nos últimos dias, diz Deus, derramarei do meu Espírito sobre todos os povos. Os seus filhos e as suas filhas profetizarão, os jovens terão visões, os velhos terão sonhos. 18 Sobre os meus servos e as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e eles profetizarão. 19 Mostrarei maravilhas em cima, no céu, e sinais em baixo, na terra: sangue, fogo e nuvens de fumaça. 20 O sol se tornará em trevas e a lua em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia do Senhor. 21 E todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo!’

Para compreendermos isso precisamos nos lembrar que, no Antigo Testamento, a presença de Deus estava associada ao Tabernáculo (Ex 40) e, posteriormente, o Templo de Salomão (1 Rs 8:11), e era essa presença que distinguia Israel dos outros povos como povo Deus. Segundo Isaías 63:9-14, essa presença divina no meio do povo é a presença do “Santo Espírito do Senhor”.

Outra característica da presença de Deus no AT é que o Espírito era derramado sobre pessoas específicas para propósitos específicos em tempos específicos, como, por exemplo, os profetas, Sansão e Davi.

Em Atos 2 vemos o testemunho do derramamento do Espírito Santo que, segundo Pedro, é o cumprimento da promessa de Deus. E ele embasa sua leitura do fato no relato do profeta Joel. A promessa que estava sendo cumprida com o derramar do Espírito era justamente a da renovação da presença de Deus, que não mais estaria ligada a um lugar específico ou a pessoas específicas. Agora, por meio de Jesus, todo aquele que fizesse parte do povo de Deus teria o Espírito habitando dentro de si. E aqueles em quem o Espírito habita se tornam pedras vivas que juntas formam o “templo” em que Deus habita (1 Pe 2:5).

À luz desse ensino das Escrituras desfaz-se um segundo mal entendido. É muito comum hoje vermos na televisão igrejas ou pessoas se apresentando como canais através de quem o Espírito age de maneira diferenciada. A propaganda é tão contundente que as pessoas passam a acreditar que o Espírito está restrito àquele lugar ou àquela pessoa. Daí se explica em parte porque os crentes parecem aves migratórias, ficam “voando” de igreja em igreja, até usando como pretexto fora do contexto a afirmação bíblica de que “o Espírito sopra onde quer”, por isso acabam sendo levadas por toda sorte de “ventos” de doutrinas incompatíveis com o Ensino das Escrituras

3. O resultado principal dessa presença é a restauração da relação das pessoas com Deus.

Não sei como é na sua casa, mas na minha quando vamos receber alguém isso gera todo um movimento no sentido de deixar tudo em ordem para receber bem a pessoa.

O Espírito Santo, por ser a 3ª. Pessoa da Trindade, e, conseqüentemente, a renovação da presença de Deus, gera nas pessoas algo semelhante a esse movimento de querer “arrumar a casa”. Arrumar a casa no sentido colocar em ordem a nossa relação com Deus.

Quando o Espírito é derramado sobre uma pessoa ele primeiramente realiza sua função principal. Em João 16:8, Jesus disse que a função principal do Espírito seria a de convencer as pessoas do pecado, da justiça e do juízo. Quando os olhos das pessoas se abrem e elas se reconhecem como pecadoras e merecedoras do castigo eterno elas também se abrem para enxergar que o único meio para a sua salvação é a entrega da vida à Cristo. Elas compreendem que Deus é justo, e que por isso não pode fazer de conta que não existe o pecado, mas compreendem também a imensidão do seu amor que fez com ele entregasse o Seu próprio Filho para morrer em nosso lugar, pagando a nossa pena.

Por isso que Paulo diz em 1 Coríntios 12:3 Por isso, eu lhes afirmo que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: ‘Jesus seja amaldiçoado’; e ninguém pode dizer: ‘Jesus é Senhor’, a não ser pelo Espírito Santo. Na mesma linha de raciocínio ele afirma em Gálatas 4:6 E, porque vocês são filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho ao coração de vocês, e ele clama: “Aba, Pai”.

À luz desse ensino da Palavra podemos desfazer um terceiro mal entendido, a questão do Batismo com o Espírito Santo. A figura do Batismo com o Espírito Santo está ligada às expressões de Joel 2 (já comentada acima) e Ezequiel 36:24-27, que compara a ação do Espírito com uma lavagem purificadora e regeneradora. Logo, batismo com o Espírito Santo é a ação de Deus que conhecemos popularmente como conversão, o ato de tirar uma pessoa das trevas e transportá-la para o Reino da Luz.

4. O objetivo maior da ação do Espírito é fazer dos regenerados pessoas cada vez mais parecidas com Jesus.

Conversão significa literalmente “mudança de caminho”, é como se um motorista de um carro estivesse seguindo por uma estrada e descobrisse que estava indo para o lugar errado, ele então pega o retorno e começa a ir para o lado certo, ele ainda não chegou ao seu destino, mas agora está no caminho correto.

A conversão produzida pela ação do Espírito é o início de uma caminhada com Deus e nessa caminhada, pela ação do mesmo Espírito, Deus vai trabalhar em nossas vidas a fim de que nos tornemos pessoas mais parecidas com Jesus Cristo.

Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito. Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que justificou, também glorificou. Romanos 8:28-30

Ao nos depararmos com esse ensino somos levados à pergunta: quais as características de alguém que é parecido com Jesus? A melhor resposta está em Gálatas 5:22-25

Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei. Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos. Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito.

Com base nesse ensino das Escrituras podemos desfazer um quarto mal entendido. A maior evidência da presença do Espírito na vida de pessoa não está na quantidade de dons ou de manifestações sobrenaturais que aconteçam na vida dela (vide Mateus 7:22-23), mas sim no quanto essa pessoa se parece com Cristo através das evidências do fruto do Espírito.

Conclusão

Ao orarmos pedindo pelo derramar do Espírito sobre nós precisamos nos lembrar que

Ø Ele é uma pessoa, e não uma força que pode ser manipulada.

Ø Ele não está restrito a lugares ou pessoas específicas.

Ø Ele age sobre nossos problemas menores a fim de resolver o nosso problema maior, a nossa salvação.

Ø Ele não é um mero “animador” de cultos, Ele vem para transformar nosso caráter.