quinta-feira, 6 de março de 2008

Desfazendo mal entendidos sobre a Pessoa e a Obra do Espírito Santo

No ano passado senti no coração o desafio de falar sobre o Espírito Santo. E por quê? Por olhar para as minhas próprias limitações e para as nossas limitações como povo em viver de maneira que agrade a Deus. E ao refletir sobre essas limitações sou constantemente levado à oração: “Senhor, tem misericórdia de nós! A começar em mim, derrama o Teu Espírito sobre nós, nos curando das nossas feridas e pecados e nos capacitando para vivermos de maneira que traga alegria ao Teu coração e fazendo de nós instrumentos para que a Tua Salvação alcance aqueles que precisam.”

Junto com esse anseio veio o desafio de buscar entender melhor como Deus responde a uma oração como essa. A busca deste entendimento se faz necessária devido à enorme confusão que há sobre a Pessoa e a Obra do Espírito Santo no meio das igrejas cristãs. Por exemplo, o movimento pentecostal ou carismático buscou resgatar a importância da presença do Espírito, junto com suas manifestações, como expressão de uma fé autêntica. No entanto muitos foram para extremos, cultivando práticas e elaborando ensinos completamente distorcidos do ensino da Palavra. Por outro lado, as igrejas tradicionais adotaram uma postura de repúdio a esses exageros e, muitas vezes, acabaram caindo no extremo oposto repudiando também expressões legítimas da manifestação do Espírito.

O resultado dessa busca foi uma série de mensagens na IP do Jaraguá, uma série que ainda precisa ser completada, pois minha busca ainda continua, e continuará até mesmo quando a série estiver completa, afinal estamos falando das coisas do Eterno Deus, aquele cuja riqueza e sabedoria são profundas e insondáveis (Rm 11:33).

Ensinos das Escrituras que desfazem mal entendidos sobre a Pessoa e a Obra do Espírito Santo.

1. O Espírito Santo é Deus, a 3ª. Pessoa da Trindade

João 14:

16  E eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Conselheiro para estar com vocês para sempre, 17 o Espírito da verdade. O mundo não pode recebê-lo, porque não o vê nem o conhece. Mas vocês o conhecem, pois ele vive com vocês e estará em vocês. (...) 25 Tudo isso lhes tenho dito enquanto ainda estou com vocês. 26 Mas o Conselheiro, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, lhes ensinará todas as coisas e lhes fará lembrar tudo o que eu lhes disse.

O Espírito Santo não é simplesmente a força, ou o poder de Deus que age na vida das pessoas, e também não é uma das formas como Deus se apresenta. O Espírito Santo é uma pessoa distinta do Pai e do Filho, porém da mesma natureza divina. A expressão “outro Conselheiro”, usada por Jesus em João 14, indica que aquele a quem o Pai enviaria seria uma pessoas distinta, mas que possuiria a mesma natureza e autoridade do próprio Cristo.

A Trindade é um mistério, porém parte deste mistério é revelado nas Escrituras, o que nos convida a um estudo profundo das mesmas para compreendermos melhor esse aspecto da natureza de Deus que tem muito a nos ensinar. Mas, podemos resumir afirmando que as três pessoas divinas, Pai, Filho e o Espírito Santo (em nome de quem somos batizados e recebemos a bênção), possuem uma relação tão íntima e tão perfeita a ponto de serem consideramos como um único Deus.

À luz deste ensino das Escrituras, desfaz-se um primeiro mal entendido. O Espírito Santo não é uma “força”, ou meramente uma forma da manifestação de Deus. Ele é Deus, mas não é o Pai, nem o Filho, é uma 3ª. Pessoa. Sendo uma pessoa, e não uma “força”, ele não pode ser manipulado. A presença do Espírito em nossas vidas não se resume a um poder que temos, mas uma pessoa com quem nos relacionamos.

2. O Espírito Santo é a presença renovada de Deus

Atos 2

14 Então Pedro levantou-se com os Onze e, em alta voz, dirigiu-se à multidão: “Homens da Judéia e todos os que vivem em Jerusalém, deixem-me explicar-lhes isto! Ouçam com atenção: 15 estes homens não estão bêbados, como vocês supõem. Ainda são nove horas da manhã! 16 Ao contrário, isto é o que foi predito pelo profeta Joel: 17 ‘Nos últimos dias, diz Deus, derramarei do meu Espírito sobre todos os povos. Os seus filhos e as suas filhas profetizarão, os jovens terão visões, os velhos terão sonhos. 18 Sobre os meus servos e as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e eles profetizarão. 19 Mostrarei maravilhas em cima, no céu, e sinais em baixo, na terra: sangue, fogo e nuvens de fumaça. 20 O sol se tornará em trevas e a lua em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia do Senhor. 21 E todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo!’

Para compreendermos isso precisamos nos lembrar que, no Antigo Testamento, a presença de Deus estava associada ao Tabernáculo (Ex 40) e, posteriormente, o Templo de Salomão (1 Rs 8:11), e era essa presença que distinguia Israel dos outros povos como povo Deus. Segundo Isaías 63:9-14, essa presença divina no meio do povo é a presença do “Santo Espírito do Senhor”.

Outra característica da presença de Deus no AT é que o Espírito era derramado sobre pessoas específicas para propósitos específicos em tempos específicos, como, por exemplo, os profetas, Sansão e Davi.

Em Atos 2 vemos o testemunho do derramamento do Espírito Santo que, segundo Pedro, é o cumprimento da promessa de Deus. E ele embasa sua leitura do fato no relato do profeta Joel. A promessa que estava sendo cumprida com o derramar do Espírito era justamente a da renovação da presença de Deus, que não mais estaria ligada a um lugar específico ou a pessoas específicas. Agora, por meio de Jesus, todo aquele que fizesse parte do povo de Deus teria o Espírito habitando dentro de si. E aqueles em quem o Espírito habita se tornam pedras vivas que juntas formam o “templo” em que Deus habita (1 Pe 2:5).

À luz desse ensino das Escrituras desfaz-se um segundo mal entendido. É muito comum hoje vermos na televisão igrejas ou pessoas se apresentando como canais através de quem o Espírito age de maneira diferenciada. A propaganda é tão contundente que as pessoas passam a acreditar que o Espírito está restrito àquele lugar ou àquela pessoa. Daí se explica em parte porque os crentes parecem aves migratórias, ficam “voando” de igreja em igreja, até usando como pretexto fora do contexto a afirmação bíblica de que “o Espírito sopra onde quer”, por isso acabam sendo levadas por toda sorte de “ventos” de doutrinas incompatíveis com o Ensino das Escrituras

3. O resultado principal dessa presença é a restauração da relação das pessoas com Deus.

Não sei como é na sua casa, mas na minha quando vamos receber alguém isso gera todo um movimento no sentido de deixar tudo em ordem para receber bem a pessoa.

O Espírito Santo, por ser a 3ª. Pessoa da Trindade, e, conseqüentemente, a renovação da presença de Deus, gera nas pessoas algo semelhante a esse movimento de querer “arrumar a casa”. Arrumar a casa no sentido colocar em ordem a nossa relação com Deus.

Quando o Espírito é derramado sobre uma pessoa ele primeiramente realiza sua função principal. Em João 16:8, Jesus disse que a função principal do Espírito seria a de convencer as pessoas do pecado, da justiça e do juízo. Quando os olhos das pessoas se abrem e elas se reconhecem como pecadoras e merecedoras do castigo eterno elas também se abrem para enxergar que o único meio para a sua salvação é a entrega da vida à Cristo. Elas compreendem que Deus é justo, e que por isso não pode fazer de conta que não existe o pecado, mas compreendem também a imensidão do seu amor que fez com ele entregasse o Seu próprio Filho para morrer em nosso lugar, pagando a nossa pena.

Por isso que Paulo diz em 1 Coríntios 12:3 Por isso, eu lhes afirmo que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: ‘Jesus seja amaldiçoado’; e ninguém pode dizer: ‘Jesus é Senhor’, a não ser pelo Espírito Santo. Na mesma linha de raciocínio ele afirma em Gálatas 4:6 E, porque vocês são filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho ao coração de vocês, e ele clama: “Aba, Pai”.

À luz desse ensino da Palavra podemos desfazer um terceiro mal entendido, a questão do Batismo com o Espírito Santo. A figura do Batismo com o Espírito Santo está ligada às expressões de Joel 2 (já comentada acima) e Ezequiel 36:24-27, que compara a ação do Espírito com uma lavagem purificadora e regeneradora. Logo, batismo com o Espírito Santo é a ação de Deus que conhecemos popularmente como conversão, o ato de tirar uma pessoa das trevas e transportá-la para o Reino da Luz.

4. O objetivo maior da ação do Espírito é fazer dos regenerados pessoas cada vez mais parecidas com Jesus.

Conversão significa literalmente “mudança de caminho”, é como se um motorista de um carro estivesse seguindo por uma estrada e descobrisse que estava indo para o lugar errado, ele então pega o retorno e começa a ir para o lado certo, ele ainda não chegou ao seu destino, mas agora está no caminho correto.

A conversão produzida pela ação do Espírito é o início de uma caminhada com Deus e nessa caminhada, pela ação do mesmo Espírito, Deus vai trabalhar em nossas vidas a fim de que nos tornemos pessoas mais parecidas com Jesus Cristo.

Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito. Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que justificou, também glorificou. Romanos 8:28-30

Ao nos depararmos com esse ensino somos levados à pergunta: quais as características de alguém que é parecido com Jesus? A melhor resposta está em Gálatas 5:22-25

Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei. Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos. Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito.

Com base nesse ensino das Escrituras podemos desfazer um quarto mal entendido. A maior evidência da presença do Espírito na vida de pessoa não está na quantidade de dons ou de manifestações sobrenaturais que aconteçam na vida dela (vide Mateus 7:22-23), mas sim no quanto essa pessoa se parece com Cristo através das evidências do fruto do Espírito.

Conclusão

Ao orarmos pedindo pelo derramar do Espírito sobre nós precisamos nos lembrar que

Ø Ele é uma pessoa, e não uma força que pode ser manipulada.

Ø Ele não está restrito a lugares ou pessoas específicas.

Ø Ele age sobre nossos problemas menores a fim de resolver o nosso problema maior, a nossa salvação.

Ø Ele não é um mero “animador” de cultos, Ele vem para transformar nosso caráter.

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