quinta-feira, 19 de março de 2009

Aprender a Conviver 2

IP do Jaraguá, 28/2/2009

Mateus 18:11-35

Como eu disse na mensagem passada, conviver é um dos desafios mais complexos da vida, e a igreja é um dos lugares em que essa complexidade mais se manifesta devido à diversidade de tipos de pessoas que a compõe e das expectativas colocadas sobre elas. Há uma expectativa geral, em boa parte justa, de que na igreja o convívio deveria ser mais fácil e prazeroso. Mas, quando olhamos para Bíblia vemos que essa expectativa não corresponde totalmente à realidade.

O problema

Ao se referir à igreja Jesus usa a metáfora do rebanho de ovelhas, e, segundo o texto, ovelhas que podem se perder. Em outras palavras, Jesus está dizendo que a igreja é feita por pessoas e pessoas que podem optar por não se submeterem à vontade de Deus.

Quando isso acontece, elas tanto podem, depois de confrontadas, voltarem a se submeter a Deus, quanto continuar no estado de rebeldia. O pior é que, para se manterem nesse estado, elas podem mentir, ofender e até ferir os seus próprios irmãos, chegando a cometerem erros com graves conseqüências para si mesmos e para os que estão ao seu redor.

A solução

Se por um lado o texto nos apresenta a igreja como ovelhas que podem se perder, por outro nos mostra o quanto Deus não quer que isso aconteça. Vemos isso pelo seu esforço em preservar e resgatar as suas ovelhas, primeiro pela ação dos seus anjos:

Os anjos não são, todos eles, espíritos ministradores enviados para servir aqueles que hão de herdar a salvação? Hebreus 1:14

E, segundo, pelo fato dele ter enviado seu próprio Filho para resgatar as suas ovelhas:

O Filho do homem veio para salvar o que se havia perdido. (vs 11)

Sendo essa a vontade de Deus, os discípulos de Jesus devem se engajar nessa missão, devem imitar a Trindade buscando ganhar o irmão que se desvia dos caminhos do Senhor. Devem tratar os irmãos como foram tratados por Deus, com Graça e misericórdia.

Mas, infelizmente, as vezes as pessoas não respondem positivamente ao amor e ao cuidado, e optam por continuar em desacordo com a vontade de Deus, vão acontecer situações em que teremos que dizer a pessoas queridas “eu amo você, mas você está escolhendo um caminho que eu não posso ir junto”. Jesus deixa claro que não podemos, em nome do amor, abrir mão da verdade, não podemos fechar os olhos para o erro, mesmo que isso nos leve a excluir pessoas do nosso convívio.

Mas agora estou lhes escrevendo que não devem associar-se com qualquer que, dizendo-se irmão, seja imoral, avarento, idólatra, caluniador, alcoólatra ou ladrão. Com tais pessoas vocês nem devem comer. 1 Coríntios 5:11

...entreguem esse homem a Satanás, para que o corpo seja destruído, e seu espírito seja salvo no dia do Senhor. 1 Coríntios 5:5

Para pensar, orar e tomar algumas decisões...

  • Eu tenho irmãos em Cristo dispostos a me ganhar, mesmo que isso ponha em risco nossa amizade?

  • Eu tenho acatado os conselhos e exortações? Tenho reconhecido meus erros quando são apontados?

  • Existem pessoas de quem eu preciso me aproximar para ganhá-las? Existem pessoas de quem eu preciso me afastar para ganhá-las?

Aprender a conviver

IP do Jaraguá, 21/2/2009

Mateus 18:1-10

Conviver com outras pessoas é, sem dúvida, um dos desafios mais complexos da vida. Não é à toa que a UNESCO estabeleceu como um dos 4 pilares da educação o “aprender a conviver”. A capacidade de conviver é uma das bases da nossa saúde emocional e até do nosso sucesso profissional. A falta dessa capacidade também está na base de problemas sociais como a degradação das famílias, os altos índices de criminalidade e até das guerras entre os povos.

A capacidade de conviver também está muito ligada à saúde espiritual. Basta observar que, quando Deus elaborou seu plano para a Salvação dos seres humanos perdidos e desconectados Dele, Ele optou por formar um povo, uma família (Gn 12:1-3), a salvação é conseqüência da aceitação do convite para se fazer parte da família de Deus, a Sua igreja (Jo 1:10-14; Mt 16:18).

O problema

Conviver com o povo de Deus também é um grande desafio. Eu me lembro de uma frase jocosa que ouvi na igreja que ilustra bem essa questão: “Viver com os irmãos no céu, que glória! Mas, conviver com eles aqui na terra é outra história”. Charles Swindoll em seu livro “Firme seus valores”, também ilustra esse grande desafio comparando os cristãos a porcos-espinho em uma noite de inverno. Na medida em que o frio aumenta, eles buscam chegar mais perto uns dos outros para se aquecerem, mas quando se aproximam se espetam e se afastam.

A Bíblia nos conta que essa dificuldade acontece por causa da matéria-prima usada para se formar a igreja.

Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus. Assim foram alguns de vocês. Mas vocês foram lavados, foram santificados, foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus. 1 Co 6:9-11

A igreja é formada por seres humanos, e seres humanos depois da queda registrada em Gn 3, são criaturas falhas, como se tivessem um defeito de fabricação, uma doença chamada pecado, que se manifesta através dos mais variadas sintomas (imoralidade, idolatria, homossexualidade, avareza, etc.). Mesmo aqueles que foram lavados, santificados e justificados no nome de Jesus ainda não estão totalmente livres dos efeitos dessa doença, como testemunha o Apóstolo Paulo:

Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo.  Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Romanos 7:18-20

Esse problema se torna mais grave dentro da igreja quando os cristãos se esquecem disso e começam a se acharem melhores do que realmente são.

Naquele momento os discípulos chegaram a Jesus e perguntaram: “Quem é o maior no Reino dos céus?” Mateus 18:1

Quando os cristãos e esquecem de que, apesar de terem sido lavados, santificados e justificados em nome de Jesus, ainda são seres humanos cuja natureza foi contaminada pelo pecado se tornam como aquele doente que relaxa no tratamento permitindo que a doença se desenvolva e se agrave. Além disso, cria-se na igreja um ambiente de soberba e intolerância que mina a sua força como ambiente terapêutico e curativo.

Devido a esse problema muitos têm abortado o convívio com o povo de Deus optando por uma fé individualista e solitária, o resultado disso é a imaturidade espiritual que nos torna frágeis e despreparados para enfrentarmos as lutas espirituais e os efeitos nocivos da nossa própria natureza pecaminosa.

A solução

A solução é a decisão de aceitar a igreja como parte fundamental do processo de Deus de salvação e transformação das nossas vidas, e, ao invés de sair numa busca irreal pela igreja “perfeita”, contribuir para a construção de uma comunidade cristã saudável à luz das orientações de Deus. Jesus, o dono da igreja, aponta nesse texto alguns caminhos para serem trilhados por aqueles que querem se engajar nesse projeto:

1. Faça a opção pela humildade

Como diz John White em seu livro “A Luta”, humildade não é pessoas inteligentes dizerem que são burras, ou pessoas bonitas dizerem que são feias. A base da humildade é o reconhecimento de que tudo o que temos nos foi dado por meio da Graça e misericórdia de Deus, não para a nossa glória e menosprezo de quem não tem o que temos, mas para ser usado para a glória Dele.

Jesus convida seus discípulos a entenderem isso chamando uma criança para o centro da roda. A criança é totalmente dependente de seus pais, o que ela vai se tornar depende, em grande parte, daquilo que ela vai receber dos seus pais.

2. Faça a opção pela fidelidade

É curioso como muitos cristãos tendem a condicionar a sua fidelidade a Deus ao nível de fidelidade a Deus demonstrado pelos outros. Isso é exemplificado pela frase “Mas, todo mundo faz”. Quando essa frase é usada ela, na verdade, quer dizer o seguinte: “não importa se a Bíblia diz que é errado, se os outros fazem eu também tenho o direito de fazer e não mereço repreensão”, ou pior “não aponte o meu erro que eu também não aponto o seu”, o que indica que determinado ambiente está dominado pela corrupção.

A fidelidade é a base para a intimidade, isso vale tanto para os relacionamentos humanos quanto para o relacionamento com Deus:

O SENHOR confia os seus segredos aos que o temem, e os leva a conhecer a sua aliança.”          Salmo 25:14

O desafio de Jesus soa como radical e até mesmo exagerado quando nos desafia a cortar uma das mãos ou um dos pés para mantermos nossa fidelidade a Deus. Ele usa essa linguagem forte justamente para nos chamar a atenção para o fato de que devemos considerar a nossa relação com Deus com o nosso “bem” mais precioso, que nada é mais importante do que ela; logo somos desafiados a pagar o preço que for necessário para preservá-la através da fidelidade.

3. Faça a opção pela solidariedade

Onde há fidelidade a Deus há fidelidade à pessoas. Se, por um lado, muitos cristãos justificam sua infidelidade com a infidelidade alheia, por outro, a fidelidade de uns inspira a fidelidade de outros, especialmente aqueles que estão começando uma caminhada com Cristo e ainda não adquiriram maturidade espiritual.

Jesus chama a atenção para a gravidade de se tornar a pedra que vai fazer o irmão mais frágil tropeçar, ou seja, se desviar dos caminhos do Senhor. Optar pela solidariedade nesse contexto tem a ver com assumir essa responsabilidade para com o irmão ao lado, de buscar ser um exemplo que o estimule e não um que o desanime.

Para pensar e praticar...

Ø O que é preciso ser arrancado de você para que você seja mais fiel a Deus?

Ø Se apresente a Deus para que Ele realize a “cirurgia”!

Ø Quanto mais cedo enfrentamos a dor, mais rápido ela passa.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A igreja dos meus sonhos

Texto publicado no boletim da IP do Jaraguá em 08/2/2009

Recentemente li na internet um texto de um rapaz descrevendo a igreja dos seus sonhos. Ele a descrevia mais ou menos da seguinte forma: “arquitetura gótica, templo em forma de cruz, vitrais com cenas bíblicas, acústica que dispensa microfonação, (...) apenas um pastor, com curso de pós-graduação reconhecido pela CAPES, paramentado com toga genebrina preta e camisa clerical (...), membresia de 200 a 300 pessoas de faixas etárias variadas...” O texto termina com a pergunta: “Qual o sonho de vocês?”[1]

Aceitei o convite e comecei a pensar sobre a igreja dos meus sonhos, mas antes mesmo de conseguir listar algumas coisas veio ao meu coração outra pergunta: Qual é o “sonho” de Deus para a sua igreja? E ao pensar nessa segunda pergunta ficou claro o quanto a resposta à primeira é o que menos importa.

É claro que todos nós temos as nossas preferências quanto ao tipo de prédio, tipo de música, estilo litúrgico, estilo de pregação, etc. Não há nada de errado nisso, o problema é quando estamos mais preocupados e empenhados em que a igreja seja mais agradável a nós do que a Deus, o dono da igreja.

A igreja que Deus quer é composta de gente que, antes de qualquer coisa, lhe tenha temor, ou seja, a consciência da grande loucura que é viver desconectado Dele e de forma contrária à Sua vontade. E que, a partir deste temor, se dedique e persevere em aprender mais sobre a Sua vontade e em praticar cada vez mais aquilo que já foi aprendido. Que também se dedique e persevere na oração e na comunhão com os irmãos de fé entendendo essas duas práticas como fontes de alimentação dessa vida de temor que nos leva à intimidade e à submissão a Deus (veja Atos 2:42-47).

Parece ironia, quanto mais nos esforçamos para que a igreja seja agradável a nós, mais ela se torna um fardo. Mas, quanto mais nos empenhamos para ela se torne agradável a Deus, mais ela se torna uma fonte de edificação e bênçãos.

Feliz aniversário a todos nós, IP do Jaraguá, que nos empenhemos em ser uma igreja do agrado de Deus.


[1] http://liturgiareformada.blogspot.com/2008/10/igreja-dos-meus-sonhos.html

Marta e Maria: Um convite para pensar sobre como lidamos com a vida.

IP do Jaraguá, domingo, 01/2/2009

Lucas 10:38-42

Marta é uma das personagens da Bíblia com quem as pessoas mais se identificam, principalmente as donas de casa zelosas e dedicadas. Mas, além delas, costumam a se identificar com Marta as pessoas que trabalham muito, que são agitadas e preocupadas com os seus muitos afazeres, aquelas que se sacrificam para que a família ou seus convidados tenham o melhor.

O mundo em que vivemos valoriza muito pessoas assim. Estar sempre ocupado, trabalhar muito, desperta o respeito e a admiração, é um sinal de virtude, do quanto a pessoa é importante. Isso é demonstrado em expressões populares do tipo: “Deus ajuda a quem cedo madruga”.

O relato bíblico nos informa que Jesus estava de passagem por aquela aldeia e decidiu ficar hospedado na casa de Marta. Enquanto Marta corria com o serviço, Maria, sua irmã mais nova, sentou-se aos pés de Jesus na sala junto com os homens para ouvir os seus ensinamentos. A atitude de Maria despertou a indignação de Marta, certamente em relação à sua irmã, mas principalmente em relação a Jesus, tanto é assim que ela o questiona na frente de todos: “Senhor, não te importas que minha irmã tenha me deixado sozinha com o serviço? Dize-lhe que me ajude!”. Por essa fala podemos concluir que Marta estava se sentindo injustiçada, mas também estava sentindo que todo seu esforço em agradar a Jesus não estava sendo reconhecido por ele.

Ao responder à Marta Jesus aponta o real problema: Ela o estava servindo do jeito dela e não do jeito que ele gostaria de ser servido. Jesus veio a esse mundo com uma missão clara, comunicar a boa notícia de que Deus havia inaugurado um novo tempo no qual as pessoas teriam a oportunidade, através dele, de se reconciliarem com Deus recebendo o perdão e a salvação. Diante da sua missão, o que mais importa para Jesus é que pessoas estejam aos seus pés, em atitude de busca e submissão aos seus ensinamentos.

À exemplo de Marta tendemos a lidar com a vida da mesma forma, tendemos sempre a querer resolver as coisas do nosso jeito. Todos nós trazemos a nossa visão de mundo que foi construída ao longo da nossa história e condicionada pela nossa criação e experiências de vida, o problema é que essa visão de mundo nem sempre está correta, e, por não perceber ou admitir isso, fazemos escolhas, tomamos atitudes que acabam trazendo para nossas vidas uma sobrecarga de preocupações e inquietações.

O contraste que o texto bíblico apresenta não é entre uma vida ativa e uma vida passiva, mas entre a pessoa que conduz sua vida a partir da sua própria cabeça e a pessoa que conduz sua vida a partir das orientações de Jesus. Quem quer resolver sua vida do seu próprio jeito tende a viver sobrecarregado de inquietações e preocupações, e quem vive a partir de Jesus não está isento de cargas e inquietações, mas as tem na medida certa, ou simplesmente tem a cargas corretas e necessárias.

Para se viver carregando apenas as cargas corretas e necessárias é preciso lidar com a vida do jeito certo, do jeito de Jesus, mas para isso precisamos nos colocar aos seus pés em atitude de busca por sua vontade e desejo sincero em se submeter a ela.