quinta-feira, 3 de abril de 2008

Confissão e dependência, atitudes que inspiram a busca por Deus

Domingo, 30/3/2008

Lucas 23:26-41

Jesus foi condenado injustamente por causa da atitude do povo.

Ao analisar a condenação de Jesus do ponto de vista humano/histórico, vemos que ela aconteceu por causa da vontade do povo de Jerusalém. Essa afirmação já gerou muita polêmica, principalmente por causa dos judeus. Eles reclamam dela, dizem que é uma forma de incentivar o ódio contra os judeus. De fato, ao longo da história isso aconteceu, muito do ódio aos judeus teve como base esse sentimento de vingança por causa da condenação de Jesus.

Nenhum cristão verdadeiro pode concordar com esse ódio aos judeus , até porque entendemos pela Palavra de Deus que a crucificação estava dentro dos propósitos de Deus. Porém, não deixa de ser verdade que, humanamente falando, Jesus foi condenado de maneira injusta por causa da atitude daquele povo.

Pilatos examinou as acusações e constatou que não havia motivos para condenar Jesus. Ele insiste nisso com o povo, mas eles se recusam a dar ouvidos e pedem pela crucificação. Pilatos então faz o famoso gesto de lavar as mãos como um sinal de “não tenho nada a ver com isso”. Mas, na verdade, ao condenar Jesus, ele estava aplicando a política do Império Romano para manter a paz nos territórios ocupados.

Jesus é rejeitado pelo povo por não ser o messias que eles esperavam. A expectativa do povo era que o messias fosse um líder político que os conduziria na luta contra o Império Romano para restaurar a liberdade e a glória passada da nação de Israel.

Jesus é também rejeitado por não aceitar as condições impostas pelas pessoas para que cressem nele. Elas o desafiaram a descer da cruz, a salvar-se de forma miraculosa como prova de que ele era o messias enviado por Deus. Um dos malfeitores condenado ao lado de Jesus impõe essa condição e mais a sua própria salvação para que ele cresse em Jesus. E faz isso, como os outros que disseram a mesma coisa, da forma mais ofensiva possível.

Jesus é rejeitado hoje por causa de atitudes do seu povo

Mas, hoje também Jesus é condenado, de certa forma, por causa das atitudes do seu povo, os cristãos. Muitas pessoas hoje rejeitam Jesus porque olham para a vida de muitos cristãos e não vem nelas nenhuma beleza, nada a ser admirado ou desejado. Pelo contrário, quando essas pessoas olham para a vida de alguns cristãos elas dizem “graças a Deus eu não sou cristão”.

Eu me lembro que, antes do meu encontro com Cristo, eu pensava da mesma forma. Eu me relacionava na escola com pessoas evangélicas e apenas uma tinha algumas posturas que eu admirava. Lembro-me de um rapaz crente que eu o admirava por sua ética, honestidade e coragem de viver de maneira coerente com suas crenças. Mas, era uma pessoa muito séria, que não se relacionava muito com os outros e me parecia alguém sem alegria de viver. Lembro-me de outro, um sujeito arrogante e sarcástico, alguém que tratava os outros com menosprezo e desdém, era odiado pela classe. Lembro-me também de algumas moças com problemas emocionais devido a uma vida dupla, na igreja cumpriam todas as regras, mas na escola tinham vergonha da sua condição de cristãs. Tudo isso fazia com que eu olhasse para o cristianismo e dissesse: “Deus me livre”.

É uma verdade que a fé das pessoas não pode se basear em homens, porém quando as pessoas não conseguem ver nos cristãos os benefícios que a vida com Cristo traz, a conclusão óbvia que elas chegam é que elas não precisam de Jesus, que a vida delas pode ir muito bem, e até melhor que a dos cristãos, pelas suas próprias forças. Jesus é rejeitado porque a vida daqueles que se dizem seus discípulos leva os outros a pensarem que o mestre não é tão bom o quanto dizem.

Jesus foi glorificado pela confissão e pela entrega do ladrão na cruz

Em meio às vozes de condenação e desdém, uma se levanta na direção contrária. É a voz de um bandido condenado por seus crimes, e para estar na cruz, deveriam ser crimes graves. É a voz de um bandido que, na presença de Jesus, tem os seus olhos abertos para ler com clareza aquele momento.

Ele sabe quem ele é, um malfeitor, alguém que sabe que merece aquela condenação. Ele sabia também que seu maior problema não era o sofrimento e a morte na cruz, mas era o seu encontro com Deus. Ele, provavelmente, sabia que iria se encontrar com o justo juiz, aquele que julga vivos e mortos. Ele sabia que Deus iria cobrá-lo pelos seus crimes, e que ser condenado por esse Deus era infinitamente pior que ser condenado pelos homens. Isso é o que a Bíblia chama de Temor de Deus.

Mas, ele sabia também que estava diante daquele que podia salvá-lo. Ele repreende o outro bandido, admirado e indignado com a tamanha cegueira daquele que insultava Jesus: “Nem ao menos nessa hora você teme a Deus?!”.

Sua oração é singela, quase que acanhada, como alguém que pede por algo que sabe que não merece receber: “lembra-te de mim quando entrares no teu Reino”. Uma oração de entrega, ele estava confiando seu destino eterno nas mãos de Jesus. A resposta dele é “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”.

Aquele homem glorifica a Jesus na medida em que ele se confessa um criminoso merecedor de condenação, e entrega sua vida nas mãos dele.

Jesus é glorificado quando seu povo é capaz de se declarar pecador e dependente da Graça de Deus.

Hoje acontece da mesma forma, Jesus é glorificado na medida em que os seus discípulos são capazes de se declarar pecadores e dependentes da Graça de Deus.

Quando falamos em vida bonita e atraente, temos a forte tendência de associar isso à perfeição, ou seja, pessoas que nunca se irritam no trânsito ou em casa com a família, pessoas que nunca sentem vontade de se divorciar, pessoas que nunca ficam tristes com os problemas, que sempre sabem os que fazer com os filhos, etc.

A própria Bíblia diz que, por mais que seja uma meta a ser perseguida (Mt 5:48), é impossível sermos perfeitos enquanto neste mundo, pois temos dentro de nós uma natureza que nos faz desejar intensamente tudo aquilo que é contrário à vontade de Deus (Rm 7).

Diante da impossibilidade da vida perfeita, muitos cristãos têm optado pelo caminho da falsidade, ou seja, querer passar para os outros uma imagem de perfeição irreal. Nesse processo a energia gasta é tão grande, que tem gerado pessoas emocionalmente doentes. Lembremos que “loucura” é a falta de conexão com a realidade.

As pessoas não cristãs conseguem enxergar isso, a falsidade, até porque muitas delas vivem assim. Vivemos num mundo que não acredita mais em pessoas perfeitas, vide os desenhos modernos de super heróis. Mas, quando elas encontram discípulos de Jesus que se apresentam como pessoas tão pecadoras como elas, mas que encontraram em Cristo, e através da sua igreja, o amor, aceitação e apoio, elas se sentem atraídas a conhecer o Deus dessas pessoas.

Fico imaginando se, por exemplo, Sônia e Estevam Hernandes, ao invés de adotarem essa postura de perseguidos pelo Diabo, percebessem o tratar de Deus em suas vidas e confessassem e se arrependessem dos seus pecados como isso faria bem para eles, para a sua igreja e para o avanço do evangelho.

Conclusão

A Bíblia diz que os cristãos são poemas de Deus (Ef 2:10). Logo, dependendo de como for o poema, o autor é glorificado ou rejeitado.

Jesus é glorificado não quando tentamos esconder que somos “pó do mesmo chão”, quando tentamos passar uma falsa imagem de que somos perfeitos. Ele é glorificado quando o seu amor fica evidenciado em nós.

O amor dele fica evidente em nossas vidas quando fica claro o quanto não merecemos esse amor, mas que, mesmo assim, somos amados e acolhidos por ele, e, em resposta a esse amor, procuramos viver de maneira que o agrade.

Esse amor também fica evidente quando tratamos os outros com o mesmo amor que ele nos trata. Um amor que acolhe pessoas e as convida a mudar de vida.

Nenhum comentário: