sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A igreja dos meus sonhos

Texto publicado no boletim da IP do Jaraguá em 08/2/2009

Recentemente li na internet um texto de um rapaz descrevendo a igreja dos seus sonhos. Ele a descrevia mais ou menos da seguinte forma: “arquitetura gótica, templo em forma de cruz, vitrais com cenas bíblicas, acústica que dispensa microfonação, (...) apenas um pastor, com curso de pós-graduação reconhecido pela CAPES, paramentado com toga genebrina preta e camisa clerical (...), membresia de 200 a 300 pessoas de faixas etárias variadas...” O texto termina com a pergunta: “Qual o sonho de vocês?”[1]

Aceitei o convite e comecei a pensar sobre a igreja dos meus sonhos, mas antes mesmo de conseguir listar algumas coisas veio ao meu coração outra pergunta: Qual é o “sonho” de Deus para a sua igreja? E ao pensar nessa segunda pergunta ficou claro o quanto a resposta à primeira é o que menos importa.

É claro que todos nós temos as nossas preferências quanto ao tipo de prédio, tipo de música, estilo litúrgico, estilo de pregação, etc. Não há nada de errado nisso, o problema é quando estamos mais preocupados e empenhados em que a igreja seja mais agradável a nós do que a Deus, o dono da igreja.

A igreja que Deus quer é composta de gente que, antes de qualquer coisa, lhe tenha temor, ou seja, a consciência da grande loucura que é viver desconectado Dele e de forma contrária à Sua vontade. E que, a partir deste temor, se dedique e persevere em aprender mais sobre a Sua vontade e em praticar cada vez mais aquilo que já foi aprendido. Que também se dedique e persevere na oração e na comunhão com os irmãos de fé entendendo essas duas práticas como fontes de alimentação dessa vida de temor que nos leva à intimidade e à submissão a Deus (veja Atos 2:42-47).

Parece ironia, quanto mais nos esforçamos para que a igreja seja agradável a nós, mais ela se torna um fardo. Mas, quanto mais nos empenhamos para ela se torne agradável a Deus, mais ela se torna uma fonte de edificação e bênçãos.

Feliz aniversário a todos nós, IP do Jaraguá, que nos empenhemos em ser uma igreja do agrado de Deus.


[1] http://liturgiareformada.blogspot.com/2008/10/igreja-dos-meus-sonhos.html

Marta e Maria: Um convite para pensar sobre como lidamos com a vida.

IP do Jaraguá, domingo, 01/2/2009

Lucas 10:38-42

Marta é uma das personagens da Bíblia com quem as pessoas mais se identificam, principalmente as donas de casa zelosas e dedicadas. Mas, além delas, costumam a se identificar com Marta as pessoas que trabalham muito, que são agitadas e preocupadas com os seus muitos afazeres, aquelas que se sacrificam para que a família ou seus convidados tenham o melhor.

O mundo em que vivemos valoriza muito pessoas assim. Estar sempre ocupado, trabalhar muito, desperta o respeito e a admiração, é um sinal de virtude, do quanto a pessoa é importante. Isso é demonstrado em expressões populares do tipo: “Deus ajuda a quem cedo madruga”.

O relato bíblico nos informa que Jesus estava de passagem por aquela aldeia e decidiu ficar hospedado na casa de Marta. Enquanto Marta corria com o serviço, Maria, sua irmã mais nova, sentou-se aos pés de Jesus na sala junto com os homens para ouvir os seus ensinamentos. A atitude de Maria despertou a indignação de Marta, certamente em relação à sua irmã, mas principalmente em relação a Jesus, tanto é assim que ela o questiona na frente de todos: “Senhor, não te importas que minha irmã tenha me deixado sozinha com o serviço? Dize-lhe que me ajude!”. Por essa fala podemos concluir que Marta estava se sentindo injustiçada, mas também estava sentindo que todo seu esforço em agradar a Jesus não estava sendo reconhecido por ele.

Ao responder à Marta Jesus aponta o real problema: Ela o estava servindo do jeito dela e não do jeito que ele gostaria de ser servido. Jesus veio a esse mundo com uma missão clara, comunicar a boa notícia de que Deus havia inaugurado um novo tempo no qual as pessoas teriam a oportunidade, através dele, de se reconciliarem com Deus recebendo o perdão e a salvação. Diante da sua missão, o que mais importa para Jesus é que pessoas estejam aos seus pés, em atitude de busca e submissão aos seus ensinamentos.

À exemplo de Marta tendemos a lidar com a vida da mesma forma, tendemos sempre a querer resolver as coisas do nosso jeito. Todos nós trazemos a nossa visão de mundo que foi construída ao longo da nossa história e condicionada pela nossa criação e experiências de vida, o problema é que essa visão de mundo nem sempre está correta, e, por não perceber ou admitir isso, fazemos escolhas, tomamos atitudes que acabam trazendo para nossas vidas uma sobrecarga de preocupações e inquietações.

O contraste que o texto bíblico apresenta não é entre uma vida ativa e uma vida passiva, mas entre a pessoa que conduz sua vida a partir da sua própria cabeça e a pessoa que conduz sua vida a partir das orientações de Jesus. Quem quer resolver sua vida do seu próprio jeito tende a viver sobrecarregado de inquietações e preocupações, e quem vive a partir de Jesus não está isento de cargas e inquietações, mas as tem na medida certa, ou simplesmente tem a cargas corretas e necessárias.

Para se viver carregando apenas as cargas corretas e necessárias é preciso lidar com a vida do jeito certo, do jeito de Jesus, mas para isso precisamos nos colocar aos seus pés em atitude de busca por sua vontade e desejo sincero em se submeter a ela.