sábado, 15 de março de 2008

Unidade, mais do que um luxo, um artigo de primeira necessidade para a vida cristã.

Efésios 4

Uma qualidade de um bom administrador é a sua capacidade de diferenciar bem aquilo que é supérfluo daquilo que é essencial. Esse princípio vale tanto para o administrador de uma empresa quanto para quem administra sua própria casa.

Por exemplo, uma família tem uma determinada renda, aí todos se sentam e vão decidir como gastar aquele dinheiro, vão fazer o seu orçamento doméstico. Ao fazer o orçamento a família vai definir o que é mais e o que é menos importante, e, conseqüentemente, vão usar a maior parte do dinheiro para aquilo que é mais importante e o que sobrar vai para o que é menos importante. Ao cultivar essa prática saudável, a família aproveita melhor a sua renda e, conseqüentemente, vive melhor.

Esse princípio também se aplica para a administração da nossa espiritualidade. Uma relação com Deus saudável é construída na medida em que, ao longo da vida, sabemos diferenciar aquilo que é supérfluo daquilo que é essencial para o crescimento da nossa relação com Deus.

Algo que é essencial para o desenvolvimento da relação com Deus, mas que muitos cristãos tratam como algo supérfluo, é a UNIDADE.

Alguns ensinos sobre a Unidade

1. Unidade é a comunhão entre os cristãos

Há um só corpo e um só Espírito, assim como a esperança para a qual vocês foram chamados é uma só; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos. (VS 4-6)

Unidade é um termo que pode ser usado para descrever a qualidade do relacionamento entre pessoas, ou seja, o nível de ligação, de comprometimento e de harmonia que existe entre elas. No caso dos cristãos essa ligação, harmonia e comprometimento entre eles se devem ao fato deles terem em comum o mesmo Senhor, a mesma fé e a mesma esperança. Esse nível de ligação é comparado ao das partes de um mesmo corpo, o corpo do próprio Cristo.

2. Unidade é resultado da ação do Espírito Santo

Façam todo o esforço para conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. (VS. 3)

Ligação, harmonia e comprometimento podem estar presentes em grupos de amigos, em companheiros de um mesmo time, em famílias, mesmo as pessoas não sendo cristãs, porém a comunhão cristã é algo diferenciado, pura e simplesmente porque o aquilo que os cristãos têm em comum é diferenciado, o Deus eterno, que habita neles e age por meio deles. Logo, é possível ter uma ligação com pessoas por causa de afinidades ou objetivos em comum, mas, comunhão cristã só é possível se for resultado da ação do Espírito Santo na vida das pessoas que faz com que elas passem a fazer parte do corpo de Cristo, devidamente conectadas às outras partes.

3. Unidade é um artigo perecível

No mesmo versículo Paulo nos mostra que a unidade é um artigo perecível, ou seja, algo que, se não conservado adequadamente, pode se estragar. E, conservar a unidade, requer esforço.

Nesse texto, Paulo aponta para aquilo que tem o maior poder para estragar a unidade, a nossa própria natureza humana

Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade. (VS. 22-24).

Paulo se refere à natureza humana usando as expressões “antiga maneira de viver” e “velho homem”. Ele usa essas expressões porque está comparando o estilo de vida de pessoas que pertencem à Cristo com o de pessoas que não pertencem a Ele. Segundo o próprio Paulo (Rm 1:18ss, e outros textos) a pessoa desconectada de Cristo é guiada pelos impulsos da sua própria natureza humana, uma natureza corrompida pelo pecado. Essa falta de conexão com Cristo expõe com muita força e clareza essa condição humana corrompida, que se manifesta na maneira com o sentimos, como pensamos, como falamos e como agimos

O próprio texto de Efésios 4 nos dá alguns exemplos da manifestação dessa natureza humana corrompida:

Sentimentos e pensamentos

  • A Soberba, ou falta de humildade, que é o não reconhecimento do valor do outro.
  • A ira, que se transforma em amargura, que endurece o coração
  • A falta de amor, a falta de paciência, que se manifestam em indiferença ou em maldade.
  • A imaturidade

Palavras e atitudes

  • A Gritaria, a atitude popularmente conhecida como “barraco”
  • A calúnia, a mentira, a palavra torpe, que denigre a imagem de alguém, que a diminui como pessoa.
  • A falta de perdão, o melindre

Fatores que contribuem para a preservação da unidade

Como prisioneiro no Senhor, rogo-lhes que vivam de maneira digna da vocação que receberam. (vs. 1)

...vocês foram ensinados a despir-se do velho homem (...), a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade. (vs 22-24)

Se o fator determinante para o perecimento da unidade é a natureza humana corrompida, conhecida biblicamente como o “velho homem” , o fator determinante para a sua preservação da unidade é uma natureza humana regenerada, conhecido biblicamente como “novo homem”.

A Bíblia ensina que, quando uma pessoa se entrega a Cristo isso é resultado da ação do Espírito Santo em sua vida, e quando isso acontece, por meio do Espírito, uma nova vida é implantada dentro dela. Mas, a velha natureza corrompida não é totalmente removida, ela passa a conviver com a nova natureza, como se duas pessoas ocupassem o mesmo corpo. Daí o cristão tem a responsabilidade de escolher qual das duas naturezas vai governar sua vida. Por isso Paulo faz o desafio, “vivam de acordo com a sua nova natureza”.

Um desafio que se manifesta em atitudes bem práticas

1. Renovar o modo de pensar

O mundo em que vivemos tem uma forte influencia sobre a nossa natureza corrompida, influência que se dá através dos vários estímulos que alimentam o mal dentro de nós. E uma das formas de estimular o mal em nós é condicionar nossa forma de pensar com idéias contrárias aos princípios de Deus.

Por exemplo, desde que éramos crianças ouvimos de pessoas próximas ou através dos programas de TV, dos filmes, das músicas, frases do tipo: “não leve desaforo para casa”, “homem não chora”, “o mundo é dos espertos”, “segure as suas cabritas porque os meus bodes estão à solta”, “todos os caminhos levam a Deus”, etc. Frases como essas que têm princípios embutidos que vão criando padrões na nossa mente que usamos para lidar com as pessoas e as situações da vida, e, muitas vezes não nos damos conta disso.

O desafio de viver de modo digno da vocação que recebemos de Jesus traz embutido esse convite a uma mudança de mentalidade. O texto nos dá exemplo. Aquele que acreditava que mentir era a melhor forma de resolver seus problemas é convidado a não apenas abandonar a mentira, mas a assumir um estilo de vida baseado na verdade. Aquele que acreditava no roubo como solução é convidado a enxergar que é melhor contribuir com os outros do que retirar dos outros (VS 25-32).

2. Comprometer-se com a busca pela maturidade

Como diz um amigo meu, envelhecer é inevitável, mas amadurecer é uma escolha. Esse é um bom princípio para qualquer área da vida (emocional, profissional, etc.), mas em especial para a espiritualidade e por uma razão simples, é vontade de Deus (VS 13-16). O propósito de Deus em nossas vidas não se limita em apenas nos salvar ou nos dar alívio para as nossas dores, ele tem como objetivo maior fazer de nós pessoas mais parecidas com Jesus.

Diante disso podemos contribuir com o processo ou não. Não é possível nos tornarmos pessoas mais parecidas com Jesus por nossa própria força e vontade, isso é possível somente por meio da ação do Espírito Santo, porém Deus nos convida a agirmos com responsabilidade no processo, o que implica em estarmos sensíveis ao mover do Espírito e estarmos dispostos a obedecê-lo.

3. Seguir a verdade em amor (VS 15)

Até agora já falamos sobre o que é unidade, sobre o que estraga a unidade, e, até aqui sobre o que preserva a unidade. Mas, você pode estar se perguntando: “por que unidade é um artigo de primeira necessidade na vida cristã”. Acreditem, muitas pessoas têm feito essa pergunta. É cada vez mais comum encontrarmos cristãos que não acreditam mais em unidade, que consideram a comunhão supérflua e descartável. Normalmente são pessoas que já sofreram ou viram pessoas próximas sofrerem grandes decepções na relação com os irmãos em Cristo.

Mas isso tudo, por mais verdadeiro que seja, não muda o fato de que, no projeto de espiritualidade segundo Deus, a comunhão com os irmãos é uma peça fundamental. O projeto de Deus é formar uma família, onde ele é o Pai e Jesus é o filho mais velho de muitos irmãos (Rm 8:29).

Essa razão já deveria bastar para um cristão, porém há mais razões que quando compreendidas nos ajudam a lidar melhor com as dificuldades da comunhão. Se o objetivo principal de Deus é fazer dos seus filhos pessoas mais parecidas com Jesus, a comunhão é a grande oficina de Deus onde ele realiza essa obra.

É em meio ao relacionamento com pessoas que nosso caráter se desenvolve. É lidando com as pessoas, com suas virtudes e defeitos, que aprendemos o significado do amor, da paciência, da bondade, do domínio próprio (Gl 5:22), das virtudes cristãs em geral. Principalmente, quando aprendemos a amar segundo o padrão de Deus nossos olhos se abrem para a compreensão dos seus mistérios.

Precisamos nos lembrar que Deus abençoa pessoas, na maioria das vezes, através de outras pessoas, porque ele está em todos os seus filhos e age por meio de todos eles. Deus deu dons às pessoas para que elas fossem instrumentos dele para nossa edificação e vice-versa.

Conclusão

Unidade não é uma invenção humana ela é resultado da ação do Espírito. Ela é fundamental no processo de Deus, de nos fazer pessoas mais parecidas com Jesus.

Ela é um artigo perecível, pode ser estragada pelas “bactérias” da nossa natureza humana corrompida. Ela é conservada através do nosso esforço em vivermos de acordo com nossa nova natureza redimida.

Se para você unidade é algo supérfluo certamente você não tem estado sensível ao mover do Espírito Santo, pois, como seria possível o autor da unidade não te conduzir a ela?

Converse com Deus sobre isso, se abra para novas conexões com os irmãos, procure estar com eles e deixe o Espírito produzir a unidade.

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