quarta-feira, 19 de março de 2008

Dons do Espírito Santo. O que são e para que servem?

Efésios 4:7-16

Em nossas meditações sobre a Pessoa e a Obra do Espírito Santo já vimos que:

  • O Espírito Santo é uma pessoa, a 3ª. Pessoa da Trindade, não simplesmente uma força ou uma forma como Deus se manifesta.
  • O Espírito Santo é a presença renovada de Deus entre o seu povo, e que ele ocupa hoje o mesmo lugar que Jesus ocupava na vida dos discípulos de sua época.
  • O Espírito Santo tem como objetivos principais produzir a conversão de pessoas, conectá-las ao corpo de Cristo (Unidade) e lapidá-las para que se tornem cada vez mais parecidas com Jesus (Os frutos do Espírito).

Note que os objetivos principais do Espírito se casam perfeitamente com a Grande Comissão (Mt 28:18-20) de Jesus à sua igreja: Ir e fazer discípulos, batizando-os e ensinando-os a guardar todas as coisas que ele ordenou.

Tendo isso claro em nosso entendimento passamos a olhar para a maneira como o Espírito realiza essa obra, o que nos leva a entrar num dos assuntos mais controvertidos no meio do cristianismo: os dons e as manifestações do Espírito Santo.

Para esclarecer dúvidas e mal entendidos sobre esse assunto nada melhor do que irmos direto à fonte, a Palavra de Deus, e fazer as perguntas necessárias.

1. O que são e para que servem os dons do Espírito Santo?

E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado... (vs. 11-12)

Dom, como o próprio termo diz, é algo que nos dado, algo que recebemos de graça, por causa da Graça de Deus. Dons espirituais são capacidades dadas por Deus aos seus filhos que os qualificam para a realização de funções em Sua obra, a edificação do corpo de Cristo.

Essas capacidades, muitas vezes, estão ligadas aos chamados talentos “naturais”, ou seja, a facilidade que uma pessoa tem para realizar algo em determinada área, aquilo que a pedagogia moderna classifica como múltiplas inteligências. Apesar de serem chamados de naturais, esses talentos são dados por Deus a todos, mesmo para aqueles que não são seus filhos (Tg 1:7; Ex 31:3-5).

Ao olharmos para a história do povo de Deus na Bíblia vemos muitos exemplos de como Deus trabalha na vida das pessoas cuidando para que elas recebessem uma formação ou para que desenvolvessem talentos que, mais tarde, com o chamado, se tornariam parte importante da capacitação para o ministério. Exemplos: Moisés, Davi e Paulo.

Mas, nem sempre, os dons estão ligados aos talentos naturais, por exemplo, um cristão pode ter uma formação em pedagogia, ser um bom profissional na área do ensino, mas não ter o dom espiritual do ensino. Essa pessoa pode até ter a capacidade de expor conceitos bíblicos mas não tem capacidade para edificar alguém, pois lhe falta o dom. O contrário também é verdadeiro, uma pessoa que não tem uma formação acadêmica, que provavelmente não teria capacidade de estar na sala de aula de uma escola convencional, pode ser um valioso instrumento de Deus para edificação do corpo dando aulas na Escola Dominical.

Em suma, um talento natural tende a ser uma parte importante da qualificação de alguém para o exercício de uma função na obra de Deus, é algo que deve ser levado em conta ao se buscar identificar qual o papel dessa pessoa no corpo, porém não é uma regra absoluta.

2. De onde vêm os dons e a quem eles são dados?

...um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos. E a cada um de nós foi concedida a graça, conforme a medida repartida por Cristo (...) E ele designou alguns para... outros para... (VS. 6-11).

Há diferentes tipos de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há diferentes tipos de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diferentes formas de atuação, mas é o mesmo Deus quem efetua tudo em todos. (1 Co 12:4-6)

Todas essas coisas, porém, são realizadas pelo mesmo e único Espírito, e ele as distribui individualmente, a cada um, como quer. (1 Co 12:11)

A reposta óbvia a essa pergunta seria: “do Espírito”, e está correta, mas nos chama a atenção nos textos acima a participação ativa das 3 pessoas da Trindade no processo de distribuição dos dons.

Mas, o mais importante a se destacar é o fato de que os dons são frutos da Graça, ou seja, eles não são conquistados pelas pessoas, eles não são dados por causa dos méritos das pessoas, eles não sinais de que a pessoa é mais santa. A distribuição dos dons é uma prerrogativa exclusiva de Deus, e os critérios que ele usa para essa distribuição é simplesmente a sua vontade soberana.

Em 1 Co 12:31, Paulo diz para buscarmos com zelo os melhores dons, tender o contrário, que os dons são resultado do nosso esforço pessoal em buscá-los. Mas, à luz do contexto, vemos que não é isso. Essa expressão significa que precisamos nos dedicar em entender quais são os dons que Deus me deu e usá-los da melhor maneira e não ficar ressentido porque não temos o dom que o outro irmão tem.

Os melhores dons são aqueles que mais contribuem para a edificação do Corpo de Cristo. Logo, quando estamos servindo a partir dos dons que nos foram realmente dados por Deus e não a partir daqueles que achamos mais “bonitos”, somos instrumentos mais eficazes no processo de edificação do Corpo de Cristo.

Uma das evidências mais fortes de que os dons são frutos da Graça na vida do cristão é o fato deles serem distribuídos a todos os discípulos sem exceção. Vimos no textos a várias afirmações de que Deus age por meio de todos, e também que a cada um dos cristãos foi dado pelo menos um dom. Isso nos faz lembrar da parábola dos talentos, que nos desafia a colocarmos aquilo que o Senhor nos deu ao Seu serviço, pois ele nos pedirá contas disso.

3. Por que os dons geram tanta confusão?

Se os dons são frutos da Graça, distribuídos pela Trindade a todos os seus filhos com o propósito de edificar o Corpo de Cristo, porque há tanta confusão envolvendo o assunto?

A igreja de Corinto nos oferece um estudo de caso bem interessante. É uma igreja onde vemos que havia uma grande variedade de dons e manifestações tremendas do Espírito Santo. No entanto, veja como Paulo se refere àquela igreja:

Irmãos, não lhes pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a crianças em Cristo. (1 Co 3:1)

Paulo se refere a eles dessa maneira justamente pelos problemas que haviam na igreja devido à essa questão dos dons do Espírito. O famoso capítulo 13 de 1 Corintios é a resposta de Paulo para a solução do problema, aquilo que ele chama de “caminho sobremodo excelente”:

Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine. Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover montanhas, se não tiver amor, nada serei.  Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me valerá. (1 Co 13:1-3)

Dons e manifestações do Espírito geram confusão na medida em que as pessoas que buscam ou exercem seus dons se esquecem do seu objetivo principal, a edificação do Corpo, que só é possível na medida em que as pessoas exercem seus dons motivadas pelo amor, a Deus e às pessoas a quem servem.

Não é incomum vermos pessoas servindo com motivações distorcidas. Pessoas podem servir no Corpo movidas pela vaidade, ou movidas pelo desejo de controlar as pessoas, ou de se auto-afirmar, ou de compensar carências e frustrações. Seja o que for, quando a motivação não é o amor há problemas. Normalmente essas motivações distorcidas se manifestam nos problemas de relacionamentos. A pessoa tem capacidades para o serviço no entanto ela não consegue se relacionar de forma saudável, isso impede o exercício dos seus dons.

Diante disso, lembremos de que dons não são sinais de espiritualidade, mas a forma como eles são utilizados sim. Um sinal de uma verdadeira espiritualidade é o servir de maneira amorosa.

Para pensar e praticar...

Dons espirituais são presentes de Deus, são fruto da sua graça. Não são indicativos de quem é mais ou menos espiritual.

O indicativo de quem é mais ou menos espiritual não está nos dons que possui, mas sim na forma como são usados.

Devem ser usados com amor, com o propósito de edificar o Corpo de Cristo.

Nenhum comentário: