quinta-feira, 19 de março de 2009

Aprender a conviver

IP do Jaraguá, 21/2/2009

Mateus 18:1-10

Conviver com outras pessoas é, sem dúvida, um dos desafios mais complexos da vida. Não é à toa que a UNESCO estabeleceu como um dos 4 pilares da educação o “aprender a conviver”. A capacidade de conviver é uma das bases da nossa saúde emocional e até do nosso sucesso profissional. A falta dessa capacidade também está na base de problemas sociais como a degradação das famílias, os altos índices de criminalidade e até das guerras entre os povos.

A capacidade de conviver também está muito ligada à saúde espiritual. Basta observar que, quando Deus elaborou seu plano para a Salvação dos seres humanos perdidos e desconectados Dele, Ele optou por formar um povo, uma família (Gn 12:1-3), a salvação é conseqüência da aceitação do convite para se fazer parte da família de Deus, a Sua igreja (Jo 1:10-14; Mt 16:18).

O problema

Conviver com o povo de Deus também é um grande desafio. Eu me lembro de uma frase jocosa que ouvi na igreja que ilustra bem essa questão: “Viver com os irmãos no céu, que glória! Mas, conviver com eles aqui na terra é outra história”. Charles Swindoll em seu livro “Firme seus valores”, também ilustra esse grande desafio comparando os cristãos a porcos-espinho em uma noite de inverno. Na medida em que o frio aumenta, eles buscam chegar mais perto uns dos outros para se aquecerem, mas quando se aproximam se espetam e se afastam.

A Bíblia nos conta que essa dificuldade acontece por causa da matéria-prima usada para se formar a igreja.

Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus. Assim foram alguns de vocês. Mas vocês foram lavados, foram santificados, foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus. 1 Co 6:9-11

A igreja é formada por seres humanos, e seres humanos depois da queda registrada em Gn 3, são criaturas falhas, como se tivessem um defeito de fabricação, uma doença chamada pecado, que se manifesta através dos mais variadas sintomas (imoralidade, idolatria, homossexualidade, avareza, etc.). Mesmo aqueles que foram lavados, santificados e justificados no nome de Jesus ainda não estão totalmente livres dos efeitos dessa doença, como testemunha o Apóstolo Paulo:

Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo.  Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Romanos 7:18-20

Esse problema se torna mais grave dentro da igreja quando os cristãos se esquecem disso e começam a se acharem melhores do que realmente são.

Naquele momento os discípulos chegaram a Jesus e perguntaram: “Quem é o maior no Reino dos céus?” Mateus 18:1

Quando os cristãos e esquecem de que, apesar de terem sido lavados, santificados e justificados em nome de Jesus, ainda são seres humanos cuja natureza foi contaminada pelo pecado se tornam como aquele doente que relaxa no tratamento permitindo que a doença se desenvolva e se agrave. Além disso, cria-se na igreja um ambiente de soberba e intolerância que mina a sua força como ambiente terapêutico e curativo.

Devido a esse problema muitos têm abortado o convívio com o povo de Deus optando por uma fé individualista e solitária, o resultado disso é a imaturidade espiritual que nos torna frágeis e despreparados para enfrentarmos as lutas espirituais e os efeitos nocivos da nossa própria natureza pecaminosa.

A solução

A solução é a decisão de aceitar a igreja como parte fundamental do processo de Deus de salvação e transformação das nossas vidas, e, ao invés de sair numa busca irreal pela igreja “perfeita”, contribuir para a construção de uma comunidade cristã saudável à luz das orientações de Deus. Jesus, o dono da igreja, aponta nesse texto alguns caminhos para serem trilhados por aqueles que querem se engajar nesse projeto:

1. Faça a opção pela humildade

Como diz John White em seu livro “A Luta”, humildade não é pessoas inteligentes dizerem que são burras, ou pessoas bonitas dizerem que são feias. A base da humildade é o reconhecimento de que tudo o que temos nos foi dado por meio da Graça e misericórdia de Deus, não para a nossa glória e menosprezo de quem não tem o que temos, mas para ser usado para a glória Dele.

Jesus convida seus discípulos a entenderem isso chamando uma criança para o centro da roda. A criança é totalmente dependente de seus pais, o que ela vai se tornar depende, em grande parte, daquilo que ela vai receber dos seus pais.

2. Faça a opção pela fidelidade

É curioso como muitos cristãos tendem a condicionar a sua fidelidade a Deus ao nível de fidelidade a Deus demonstrado pelos outros. Isso é exemplificado pela frase “Mas, todo mundo faz”. Quando essa frase é usada ela, na verdade, quer dizer o seguinte: “não importa se a Bíblia diz que é errado, se os outros fazem eu também tenho o direito de fazer e não mereço repreensão”, ou pior “não aponte o meu erro que eu também não aponto o seu”, o que indica que determinado ambiente está dominado pela corrupção.

A fidelidade é a base para a intimidade, isso vale tanto para os relacionamentos humanos quanto para o relacionamento com Deus:

O SENHOR confia os seus segredos aos que o temem, e os leva a conhecer a sua aliança.”          Salmo 25:14

O desafio de Jesus soa como radical e até mesmo exagerado quando nos desafia a cortar uma das mãos ou um dos pés para mantermos nossa fidelidade a Deus. Ele usa essa linguagem forte justamente para nos chamar a atenção para o fato de que devemos considerar a nossa relação com Deus com o nosso “bem” mais precioso, que nada é mais importante do que ela; logo somos desafiados a pagar o preço que for necessário para preservá-la através da fidelidade.

3. Faça a opção pela solidariedade

Onde há fidelidade a Deus há fidelidade à pessoas. Se, por um lado, muitos cristãos justificam sua infidelidade com a infidelidade alheia, por outro, a fidelidade de uns inspira a fidelidade de outros, especialmente aqueles que estão começando uma caminhada com Cristo e ainda não adquiriram maturidade espiritual.

Jesus chama a atenção para a gravidade de se tornar a pedra que vai fazer o irmão mais frágil tropeçar, ou seja, se desviar dos caminhos do Senhor. Optar pela solidariedade nesse contexto tem a ver com assumir essa responsabilidade para com o irmão ao lado, de buscar ser um exemplo que o estimule e não um que o desanime.

Para pensar e praticar...

Ø O que é preciso ser arrancado de você para que você seja mais fiel a Deus?

Ø Se apresente a Deus para que Ele realize a “cirurgia”!

Ø Quanto mais cedo enfrentamos a dor, mais rápido ela passa.

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