quinta-feira, 19 de março de 2009

Aprender a Conviver 2

IP do Jaraguá, 28/2/2009

Mateus 18:11-35

Como eu disse na mensagem passada, conviver é um dos desafios mais complexos da vida, e a igreja é um dos lugares em que essa complexidade mais se manifesta devido à diversidade de tipos de pessoas que a compõe e das expectativas colocadas sobre elas. Há uma expectativa geral, em boa parte justa, de que na igreja o convívio deveria ser mais fácil e prazeroso. Mas, quando olhamos para Bíblia vemos que essa expectativa não corresponde totalmente à realidade.

O problema

Ao se referir à igreja Jesus usa a metáfora do rebanho de ovelhas, e, segundo o texto, ovelhas que podem se perder. Em outras palavras, Jesus está dizendo que a igreja é feita por pessoas e pessoas que podem optar por não se submeterem à vontade de Deus.

Quando isso acontece, elas tanto podem, depois de confrontadas, voltarem a se submeter a Deus, quanto continuar no estado de rebeldia. O pior é que, para se manterem nesse estado, elas podem mentir, ofender e até ferir os seus próprios irmãos, chegando a cometerem erros com graves conseqüências para si mesmos e para os que estão ao seu redor.

A solução

Se por um lado o texto nos apresenta a igreja como ovelhas que podem se perder, por outro nos mostra o quanto Deus não quer que isso aconteça. Vemos isso pelo seu esforço em preservar e resgatar as suas ovelhas, primeiro pela ação dos seus anjos:

Os anjos não são, todos eles, espíritos ministradores enviados para servir aqueles que hão de herdar a salvação? Hebreus 1:14

E, segundo, pelo fato dele ter enviado seu próprio Filho para resgatar as suas ovelhas:

O Filho do homem veio para salvar o que se havia perdido. (vs 11)

Sendo essa a vontade de Deus, os discípulos de Jesus devem se engajar nessa missão, devem imitar a Trindade buscando ganhar o irmão que se desvia dos caminhos do Senhor. Devem tratar os irmãos como foram tratados por Deus, com Graça e misericórdia.

Mas, infelizmente, as vezes as pessoas não respondem positivamente ao amor e ao cuidado, e optam por continuar em desacordo com a vontade de Deus, vão acontecer situações em que teremos que dizer a pessoas queridas “eu amo você, mas você está escolhendo um caminho que eu não posso ir junto”. Jesus deixa claro que não podemos, em nome do amor, abrir mão da verdade, não podemos fechar os olhos para o erro, mesmo que isso nos leve a excluir pessoas do nosso convívio.

Mas agora estou lhes escrevendo que não devem associar-se com qualquer que, dizendo-se irmão, seja imoral, avarento, idólatra, caluniador, alcoólatra ou ladrão. Com tais pessoas vocês nem devem comer. 1 Coríntios 5:11

...entreguem esse homem a Satanás, para que o corpo seja destruído, e seu espírito seja salvo no dia do Senhor. 1 Coríntios 5:5

Para pensar, orar e tomar algumas decisões...

  • Eu tenho irmãos em Cristo dispostos a me ganhar, mesmo que isso ponha em risco nossa amizade?

  • Eu tenho acatado os conselhos e exortações? Tenho reconhecido meus erros quando são apontados?

  • Existem pessoas de quem eu preciso me aproximar para ganhá-las? Existem pessoas de quem eu preciso me afastar para ganhá-las?

Aprender a conviver

IP do Jaraguá, 21/2/2009

Mateus 18:1-10

Conviver com outras pessoas é, sem dúvida, um dos desafios mais complexos da vida. Não é à toa que a UNESCO estabeleceu como um dos 4 pilares da educação o “aprender a conviver”. A capacidade de conviver é uma das bases da nossa saúde emocional e até do nosso sucesso profissional. A falta dessa capacidade também está na base de problemas sociais como a degradação das famílias, os altos índices de criminalidade e até das guerras entre os povos.

A capacidade de conviver também está muito ligada à saúde espiritual. Basta observar que, quando Deus elaborou seu plano para a Salvação dos seres humanos perdidos e desconectados Dele, Ele optou por formar um povo, uma família (Gn 12:1-3), a salvação é conseqüência da aceitação do convite para se fazer parte da família de Deus, a Sua igreja (Jo 1:10-14; Mt 16:18).

O problema

Conviver com o povo de Deus também é um grande desafio. Eu me lembro de uma frase jocosa que ouvi na igreja que ilustra bem essa questão: “Viver com os irmãos no céu, que glória! Mas, conviver com eles aqui na terra é outra história”. Charles Swindoll em seu livro “Firme seus valores”, também ilustra esse grande desafio comparando os cristãos a porcos-espinho em uma noite de inverno. Na medida em que o frio aumenta, eles buscam chegar mais perto uns dos outros para se aquecerem, mas quando se aproximam se espetam e se afastam.

A Bíblia nos conta que essa dificuldade acontece por causa da matéria-prima usada para se formar a igreja.

Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus. Assim foram alguns de vocês. Mas vocês foram lavados, foram santificados, foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus. 1 Co 6:9-11

A igreja é formada por seres humanos, e seres humanos depois da queda registrada em Gn 3, são criaturas falhas, como se tivessem um defeito de fabricação, uma doença chamada pecado, que se manifesta através dos mais variadas sintomas (imoralidade, idolatria, homossexualidade, avareza, etc.). Mesmo aqueles que foram lavados, santificados e justificados no nome de Jesus ainda não estão totalmente livres dos efeitos dessa doença, como testemunha o Apóstolo Paulo:

Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo.  Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Romanos 7:18-20

Esse problema se torna mais grave dentro da igreja quando os cristãos se esquecem disso e começam a se acharem melhores do que realmente são.

Naquele momento os discípulos chegaram a Jesus e perguntaram: “Quem é o maior no Reino dos céus?” Mateus 18:1

Quando os cristãos e esquecem de que, apesar de terem sido lavados, santificados e justificados em nome de Jesus, ainda são seres humanos cuja natureza foi contaminada pelo pecado se tornam como aquele doente que relaxa no tratamento permitindo que a doença se desenvolva e se agrave. Além disso, cria-se na igreja um ambiente de soberba e intolerância que mina a sua força como ambiente terapêutico e curativo.

Devido a esse problema muitos têm abortado o convívio com o povo de Deus optando por uma fé individualista e solitária, o resultado disso é a imaturidade espiritual que nos torna frágeis e despreparados para enfrentarmos as lutas espirituais e os efeitos nocivos da nossa própria natureza pecaminosa.

A solução

A solução é a decisão de aceitar a igreja como parte fundamental do processo de Deus de salvação e transformação das nossas vidas, e, ao invés de sair numa busca irreal pela igreja “perfeita”, contribuir para a construção de uma comunidade cristã saudável à luz das orientações de Deus. Jesus, o dono da igreja, aponta nesse texto alguns caminhos para serem trilhados por aqueles que querem se engajar nesse projeto:

1. Faça a opção pela humildade

Como diz John White em seu livro “A Luta”, humildade não é pessoas inteligentes dizerem que são burras, ou pessoas bonitas dizerem que são feias. A base da humildade é o reconhecimento de que tudo o que temos nos foi dado por meio da Graça e misericórdia de Deus, não para a nossa glória e menosprezo de quem não tem o que temos, mas para ser usado para a glória Dele.

Jesus convida seus discípulos a entenderem isso chamando uma criança para o centro da roda. A criança é totalmente dependente de seus pais, o que ela vai se tornar depende, em grande parte, daquilo que ela vai receber dos seus pais.

2. Faça a opção pela fidelidade

É curioso como muitos cristãos tendem a condicionar a sua fidelidade a Deus ao nível de fidelidade a Deus demonstrado pelos outros. Isso é exemplificado pela frase “Mas, todo mundo faz”. Quando essa frase é usada ela, na verdade, quer dizer o seguinte: “não importa se a Bíblia diz que é errado, se os outros fazem eu também tenho o direito de fazer e não mereço repreensão”, ou pior “não aponte o meu erro que eu também não aponto o seu”, o que indica que determinado ambiente está dominado pela corrupção.

A fidelidade é a base para a intimidade, isso vale tanto para os relacionamentos humanos quanto para o relacionamento com Deus:

O SENHOR confia os seus segredos aos que o temem, e os leva a conhecer a sua aliança.”          Salmo 25:14

O desafio de Jesus soa como radical e até mesmo exagerado quando nos desafia a cortar uma das mãos ou um dos pés para mantermos nossa fidelidade a Deus. Ele usa essa linguagem forte justamente para nos chamar a atenção para o fato de que devemos considerar a nossa relação com Deus com o nosso “bem” mais precioso, que nada é mais importante do que ela; logo somos desafiados a pagar o preço que for necessário para preservá-la através da fidelidade.

3. Faça a opção pela solidariedade

Onde há fidelidade a Deus há fidelidade à pessoas. Se, por um lado, muitos cristãos justificam sua infidelidade com a infidelidade alheia, por outro, a fidelidade de uns inspira a fidelidade de outros, especialmente aqueles que estão começando uma caminhada com Cristo e ainda não adquiriram maturidade espiritual.

Jesus chama a atenção para a gravidade de se tornar a pedra que vai fazer o irmão mais frágil tropeçar, ou seja, se desviar dos caminhos do Senhor. Optar pela solidariedade nesse contexto tem a ver com assumir essa responsabilidade para com o irmão ao lado, de buscar ser um exemplo que o estimule e não um que o desanime.

Para pensar e praticar...

Ø O que é preciso ser arrancado de você para que você seja mais fiel a Deus?

Ø Se apresente a Deus para que Ele realize a “cirurgia”!

Ø Quanto mais cedo enfrentamos a dor, mais rápido ela passa.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A igreja dos meus sonhos

Texto publicado no boletim da IP do Jaraguá em 08/2/2009

Recentemente li na internet um texto de um rapaz descrevendo a igreja dos seus sonhos. Ele a descrevia mais ou menos da seguinte forma: “arquitetura gótica, templo em forma de cruz, vitrais com cenas bíblicas, acústica que dispensa microfonação, (...) apenas um pastor, com curso de pós-graduação reconhecido pela CAPES, paramentado com toga genebrina preta e camisa clerical (...), membresia de 200 a 300 pessoas de faixas etárias variadas...” O texto termina com a pergunta: “Qual o sonho de vocês?”[1]

Aceitei o convite e comecei a pensar sobre a igreja dos meus sonhos, mas antes mesmo de conseguir listar algumas coisas veio ao meu coração outra pergunta: Qual é o “sonho” de Deus para a sua igreja? E ao pensar nessa segunda pergunta ficou claro o quanto a resposta à primeira é o que menos importa.

É claro que todos nós temos as nossas preferências quanto ao tipo de prédio, tipo de música, estilo litúrgico, estilo de pregação, etc. Não há nada de errado nisso, o problema é quando estamos mais preocupados e empenhados em que a igreja seja mais agradável a nós do que a Deus, o dono da igreja.

A igreja que Deus quer é composta de gente que, antes de qualquer coisa, lhe tenha temor, ou seja, a consciência da grande loucura que é viver desconectado Dele e de forma contrária à Sua vontade. E que, a partir deste temor, se dedique e persevere em aprender mais sobre a Sua vontade e em praticar cada vez mais aquilo que já foi aprendido. Que também se dedique e persevere na oração e na comunhão com os irmãos de fé entendendo essas duas práticas como fontes de alimentação dessa vida de temor que nos leva à intimidade e à submissão a Deus (veja Atos 2:42-47).

Parece ironia, quanto mais nos esforçamos para que a igreja seja agradável a nós, mais ela se torna um fardo. Mas, quanto mais nos empenhamos para ela se torne agradável a Deus, mais ela se torna uma fonte de edificação e bênçãos.

Feliz aniversário a todos nós, IP do Jaraguá, que nos empenhemos em ser uma igreja do agrado de Deus.


[1] http://liturgiareformada.blogspot.com/2008/10/igreja-dos-meus-sonhos.html

Marta e Maria: Um convite para pensar sobre como lidamos com a vida.

IP do Jaraguá, domingo, 01/2/2009

Lucas 10:38-42

Marta é uma das personagens da Bíblia com quem as pessoas mais se identificam, principalmente as donas de casa zelosas e dedicadas. Mas, além delas, costumam a se identificar com Marta as pessoas que trabalham muito, que são agitadas e preocupadas com os seus muitos afazeres, aquelas que se sacrificam para que a família ou seus convidados tenham o melhor.

O mundo em que vivemos valoriza muito pessoas assim. Estar sempre ocupado, trabalhar muito, desperta o respeito e a admiração, é um sinal de virtude, do quanto a pessoa é importante. Isso é demonstrado em expressões populares do tipo: “Deus ajuda a quem cedo madruga”.

O relato bíblico nos informa que Jesus estava de passagem por aquela aldeia e decidiu ficar hospedado na casa de Marta. Enquanto Marta corria com o serviço, Maria, sua irmã mais nova, sentou-se aos pés de Jesus na sala junto com os homens para ouvir os seus ensinamentos. A atitude de Maria despertou a indignação de Marta, certamente em relação à sua irmã, mas principalmente em relação a Jesus, tanto é assim que ela o questiona na frente de todos: “Senhor, não te importas que minha irmã tenha me deixado sozinha com o serviço? Dize-lhe que me ajude!”. Por essa fala podemos concluir que Marta estava se sentindo injustiçada, mas também estava sentindo que todo seu esforço em agradar a Jesus não estava sendo reconhecido por ele.

Ao responder à Marta Jesus aponta o real problema: Ela o estava servindo do jeito dela e não do jeito que ele gostaria de ser servido. Jesus veio a esse mundo com uma missão clara, comunicar a boa notícia de que Deus havia inaugurado um novo tempo no qual as pessoas teriam a oportunidade, através dele, de se reconciliarem com Deus recebendo o perdão e a salvação. Diante da sua missão, o que mais importa para Jesus é que pessoas estejam aos seus pés, em atitude de busca e submissão aos seus ensinamentos.

À exemplo de Marta tendemos a lidar com a vida da mesma forma, tendemos sempre a querer resolver as coisas do nosso jeito. Todos nós trazemos a nossa visão de mundo que foi construída ao longo da nossa história e condicionada pela nossa criação e experiências de vida, o problema é que essa visão de mundo nem sempre está correta, e, por não perceber ou admitir isso, fazemos escolhas, tomamos atitudes que acabam trazendo para nossas vidas uma sobrecarga de preocupações e inquietações.

O contraste que o texto bíblico apresenta não é entre uma vida ativa e uma vida passiva, mas entre a pessoa que conduz sua vida a partir da sua própria cabeça e a pessoa que conduz sua vida a partir das orientações de Jesus. Quem quer resolver sua vida do seu próprio jeito tende a viver sobrecarregado de inquietações e preocupações, e quem vive a partir de Jesus não está isento de cargas e inquietações, mas as tem na medida certa, ou simplesmente tem a cargas corretas e necessárias.

Para se viver carregando apenas as cargas corretas e necessárias é preciso lidar com a vida do jeito certo, do jeito de Jesus, mas para isso precisamos nos colocar aos seus pés em atitude de busca por sua vontade e desejo sincero em se submeter a ela.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Presbíteros: O que são? O que fazem? E eu com isso?

IP do Jaraguá, domingo 03/08/2008

1ª Mensagem

Creio que todo presbiteriano ao falar com alguém sobre sua fé e sobre a sua igreja já deve ter ouvido alguma pessoa se enroscar como o nome da igreja: “presbi... o quê?”

O nome um tanto diferente desperta a curiosidade, e aí vira uma oportunidade para explicamos que o nome da igreja é por causa do seu sistema de governo, ou seja, que é uma igreja governada por um grupo de pessoas intituladas “presbíteros”.

De onde vêm os presbíteros?

“Presbítero” é um termo grego equivalente a “ancião” utilizado no Antigo Testamento que se refere à uma pessoa mais velha, o adulto, ou “aquele que possui barba”. Em Israel o ancião é, primeiramente, o chefe de uma família ou clã. Esses chefes de família formavam uma espécie de conselho da cidade, eram os responsáveis pela aplicação da Lei dada por Deus ao seu povo, julgavam os casos na porta da cidade e aplicavam a justiça (Dt 22:15; Am 5:10-12; Zc 8:16). Dentre eles alguns eram escolhidos para exercerem essa função de liderança em nível nacional (Nm 11:16-17), eles eram considerados os pastores da nação juntamente com os reis, sacerdotes e profetas (Ez 34).

A igreja seguiu essa mesma estrutura de liderança, o livro de Atos menciona que a igreja em Jerusalém era dirigida pelos apóstolos juntamente com os presbíteros (At 11:30 e cap. 15). Paulo também seguiu esse modelo estabelecendo presbíteros nas igrejas em que plantava (At 14:23; Tt 1:5). O NT se refere a eles também usando outros termos como “bispos” (Fp 1:1; 1 Tm 3:1); “guias” (Hb 13:17) e “pastores” (Ef 4:11).

A importância dos presbíteros

Os anciãos de Israel tinham um papel fundamental, zelar para que a nação não deixasse de viver em conformidade com a Lei dada por Deus ao seu povo através de Moisés. São inúmeros os textos em que Deus adverte o seu povo sobre a importância da observância da Lei, pois essa obediência determinaria a bênção ou o juízo de Deus sobre a nação. Israel falhou e foi desobediente à Lei e grande parte da culpa foi dos anciãos que não desempenharam seu papel corretamente (Pv 11:14). Esse papel fundamental fica mais claro quando vemos que a restauração de Israel passava pela restauração de anciãos fiéis (Is 1:26).

Efésios 4:11ss é um texto chave para a compreensão da importância dos presbíteros no contexto da igreja. Paulo diz que eles, como guias e superintendentes da comunidade, têm a responsabilidade de equipar os discípulos de Cristo para que os mesmos possam servir a Deus da melhor maneira, pois assim o Corpo de Cristo (a sua igreja) é edificado, ou seja, crescimento de tamanho (cada vez mais pessoas se tornando parte desse Corpo) e de maturidade em Cristo (as pessoas se tornando cada vez mais parecidas com Jesus).

Algumas conclusões

À luz da descrição que tanto o AT quanto o NT fazem podemos concluir que Presbíteros são pessoas que, na caminhada com Deus, já chegaram a um nível de maturidade em Cristo que se tornaram capazes de ajudar aqueles que estão iniciando a caminhada a desenvolverem essa mesma maturidade.

Se pensarmos em presbíteros como sendo pessoas maduras em Cristo, e não apenas como pessoas que ocupam um cargo, podemos afirmar que a vontade de Deus é que todo discípulo de Jesus se torne um presbítero, em outras palavras, alguém maduro. Assim como um pai educa seu filho para ele cresça e um dia venha a ter condições de também se tornar um pai, Deus trabalha em nossas vidas para que cresçamos na fé a ponto de termos todas as condições de desempenharmos esse papel na comunidade, ocupando ou não o cargo.

Mas, basta chegar um momento de elegermos presbíteros em nossa igreja para constarmos que poucos têm condições de ocupar cargo, e por que será? Será porque Deus não tem chamado pessoas para servi-lo?Será que Deus não tem distribuído dons em nossa comunidade? Vejo duas razões principais para isso: 1) Os discípulos de Cristo não têm sido adequadamente equipados. 2) Os discípulos de Cristo estão cada vez menos interessados em se tornarem maduros (Hb 5:12-13).

Certamente há muito o que se refletir em cima de cada uma dessas razões, mas, me atendo mais à segunda razão, me lembro de uma frase: “Envelhecer é inevitável, mas amadurecer é uma escolha”. O que tem te impedido de se tornar uma pessoa madura em Cristo? Será que você já não tem “horas/aula” suficiente de estudos bíblicos para ser alguém capaz de ensinar a outros? Só amadurece quem decide de deixar as coisas de menino, sair da zona de conforto, assumir responsabilidades e enfrentar as dores do crescimento.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

A vontade de Deus

IP do Jaraguá, domingo 22/6/2008

1º NívelO Relacionamento com Deus

Em minha ultima mensagem vimos, através do exemplo do agir de Deus na vida do apóstolo Paulo, que quando estamos andando dentro da vontade de Deus não precisamos temer as tempestades.

Mesmo depois da mensagem ainda fiquei pensando sobre essa afirmação, e sobre a mensagem como um todo, onde vimos que o mais importante na vida é estarmos vivendo dentro da vontade de Deus. Então veio ao meu coração as perguntas: Qual é a vontade de Deus? Como descobrir a vontade de Deus para minha vida? Hoje vamos iniciar uma série de meditações buscando as respostas a essas perguntas.

Os níveis da vontade de Deus

Normalmente, quando nos perguntamos sobre a vontade de Deus para nossas vidas estamos preocupados em tomar decisões corretas sobre questões bem específicas tais como: com quem casar, que carreira seguir, onde trabalhar, onde morar, onde investir, etc...

Mas, ao olharmos para o ensino geral das Escrituras sobre a vontade de Deus, vemos que ela se manifesta em níveis que vão do mais geral até o mais específico. Assim sendo, para compreendermos a vontade de Deus específica precisamos compreender os outros níveis, pois sua vontade específica estará sempre ligada à sua vontade mais abrangente.

Podemos resumir a vontade de Deus em 4 grandes níveis:

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Efésios 1:3-12

3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo. 4 Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença. 5 Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos, por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade, 6 para o louvor da sua gloriosa graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado.

7 Nele temos a redenção por meio de seu sangue, o perdão dos pecados, de acordo com as riquezas da graça de Deus, 8 a qual ele derramou sobre nós com toda a sabedoria e entendimento. 9 E nos revelou o mistério da sua vontade, de acordo com o seu bom propósito que ele estabeleceu em Cristo, 10 isto é, de fazer convergir em Cristo todas as coisas, celestiais ou terrenas, na dispensação da plenitude dos tempos.

11 Nele fomos também escolhidos, tendo sido predestinados conforme o plano daquele que faz todas as coisas segundo o propósito da sua vontade, 12 a fim de que nós, os que primeiro esperamos em Cristo, sejamos para o louvor da sua glória.

A vontade de Deus para nossas vidas, antes de qualquer outra coisa, é que nos relacionemos com ele. O texto acima de Efésios nos ajuda a compreender melhor esse nível.

1. Um relacionamento que faz parte do plano maior de Deus.

Ø A restauração da criação

Então vi novos céus e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham passado (...) Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou.

Apocalipse. 21:1-4

A Bílblia é um livro que conta uma única história, com começo, meio e fim, a história do relacionamento entre Deus e a humanidade.

A história tem início com Deus criando todas as coisas e atestando que tudo o que foi criado era bom.  O ser humano ocupa o lugar principal na criação vivendo em perfeita harmonia com Deus, com o seu próximo, consigo mesmo e com o restante da criação.

Mas, a criação se rebela contra o criador, uma rebelião que começa no céu e chega à terra.  O serees humanos representados em Adão e Eva decidem não mais viver debaixo do governo de Deus.  A consequência dessa decisão foi o rompimento da harmonia do ser humano com Deus, com seu próximo, consigo mesmo e com a criação.

Esses fatos são relatados nos 3 primeiros capítulos de Gênesis, o restante da Bíblia vai nos contar como Deus executou o seu plano para restaurar a sua criação ao estado original, incluido, principalmente, a restauração do relacionamento com os seres humanos.

Ø Através de Jesus

“Não chore! Eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos”.

Apocalipse 5:5

A rebelião do ser humano contra Deus é descrita pela Bíblia como uma ofensa e um crime, e como tal exige reparação, que o débito com a justiça divina seja quitado.  Deus deseja salvar pessoas da condenação que está sobre elas devido ao crime de rebelião, mas ele não pode pazer de conta de que esse débito não existe. 

Jesus é a solução para o problema.  Jesus, o filho amado de Deus, morreu na cruz para pagar pelo crime dos seres humanos, ele pôde fazer isso por que ele mesmo não tinha pecado, um inocente morreu no lugar dos culpados. 

Mas, Jesus venceu a morte, ele ressusucitou ao terceiro dia para oferecer aos que se arrependerem dos seus pecados os benefícios do seu sacrifício na cruz.  Ele convida pessoas a fazerem o caminho contrário ao de Adão e Eva, a saírem do estado de rebelião para o estado de submissão à Deus, pois quem fizer esse caminho desfrutará da salvação, ou seja, viverá eternamente na criação restaurada, o novo céu e a nova terra.

É vontade de Deus que nos relacionemos com Ele por que isso é parte importante do seu plano maior de restaurar a criação ao seu estado original.

2. Um relacionamento que direciona o plano maior de Deus

Ø Todas as coisas cooperam para o bem

Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito.

Romanos 8:28

Segundo o texto acima, Deus conduz a história de rumo à concretização do seu propósito, a restauração da criação (é nesse sentido que o termo "propósito" é empregado nesse texto).  E diz também que Deus age, ou direciona, todos os acontecimentos (alegres e tristes) para o bem daqueles que foram chamados segundo esse propósito.

Não determina no sentido de fazer de Deus um refém, mas direciona no sentido de Deus escolher caminhos que contribuam para esse relacionamento, que está dentro do propósito maior.

Nesse sentido, podemos dizer que ninguém está fora da vontade de Deus, todas as coisas pelas quais passamos tem a permissão de Deus, logo, se ele permitiu isso tem relação com a sua vontade primeira, pois todas as coisas cooperam para o bem dos que os amam. Como diz o cântico: "não existe nada melhor do que ser amigo de Deus".

3. Um relacionamento que está a serviço do plano maior de Deus

Ø O louvor da sua glória

No texto acima de Efésios vemos que o objetivo final de Deus com a restauração da criação é o louvor da sua glória.  Da mesma forma, conforme Romanos 1:18ss, a ira e o juízo de Deus são motivados pelo fato dos seres humanos não darem glória devida a Deus, a redenção da criação é motivada pelo louvor da glória de Deus.

Ø Deus é glorificado na demonstração da sua Graça e amor

Deus nos ressuscitou com Cristo e com ele nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus, para mostrar, nas eras que hão de vir, a incomparável riqueza de sua graça, demonstrada em sua bondade para conosco em Cristo Jesus.

Efésios. 2:6-7

Podemos afirmar que o nosso relacionamento com Deus está à serviço do seu plano maior porque Ele é glorificado ao derramar sobre nós a Sua Graça nos trazendo salvação.

Para pensar e praticar

Imagine um grande avião fazendo uma viagem internacional.  Imagine uma pequena mosca dentro deste avião voando de uma lado para o outro.  Dentro do avião ela tem a sensação de que está no controle do seu destino, afinal ela voa para onde quiser, mas ela não se dá conta que o avião está em movimento e que o destino dela está nas mãos do piloto do avião.  Assim é a nossa vida nas mãos de Deus. 

Lembremos que nesse processo, tudo aquilo que Deus permite que aconteça em nossas vidas (alegrias e tristezas) tem a finalidade de contribuir para o cumprimento da sua vontade, que aprofundemos nossa relação com ele, parte importantíssima em seu plano de restaurar a criação.

Diante de tudo isso, cabe a nós nos lembrarmos disso e colaborar com Deus no processo, buscar compreendeer o que ele está fazendo em nossas vidas e ao nosso redor e nos submetermos de boa vontade aos seus direcionamentos.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Confissão e dependência, atitudes que inspiram a busca por Deus

Domingo, 30/3/2008

Lucas 23:26-41

Jesus foi condenado injustamente por causa da atitude do povo.

Ao analisar a condenação de Jesus do ponto de vista humano/histórico, vemos que ela aconteceu por causa da vontade do povo de Jerusalém. Essa afirmação já gerou muita polêmica, principalmente por causa dos judeus. Eles reclamam dela, dizem que é uma forma de incentivar o ódio contra os judeus. De fato, ao longo da história isso aconteceu, muito do ódio aos judeus teve como base esse sentimento de vingança por causa da condenação de Jesus.

Nenhum cristão verdadeiro pode concordar com esse ódio aos judeus , até porque entendemos pela Palavra de Deus que a crucificação estava dentro dos propósitos de Deus. Porém, não deixa de ser verdade que, humanamente falando, Jesus foi condenado de maneira injusta por causa da atitude daquele povo.

Pilatos examinou as acusações e constatou que não havia motivos para condenar Jesus. Ele insiste nisso com o povo, mas eles se recusam a dar ouvidos e pedem pela crucificação. Pilatos então faz o famoso gesto de lavar as mãos como um sinal de “não tenho nada a ver com isso”. Mas, na verdade, ao condenar Jesus, ele estava aplicando a política do Império Romano para manter a paz nos territórios ocupados.

Jesus é rejeitado pelo povo por não ser o messias que eles esperavam. A expectativa do povo era que o messias fosse um líder político que os conduziria na luta contra o Império Romano para restaurar a liberdade e a glória passada da nação de Israel.

Jesus é também rejeitado por não aceitar as condições impostas pelas pessoas para que cressem nele. Elas o desafiaram a descer da cruz, a salvar-se de forma miraculosa como prova de que ele era o messias enviado por Deus. Um dos malfeitores condenado ao lado de Jesus impõe essa condição e mais a sua própria salvação para que ele cresse em Jesus. E faz isso, como os outros que disseram a mesma coisa, da forma mais ofensiva possível.

Jesus é rejeitado hoje por causa de atitudes do seu povo

Mas, hoje também Jesus é condenado, de certa forma, por causa das atitudes do seu povo, os cristãos. Muitas pessoas hoje rejeitam Jesus porque olham para a vida de muitos cristãos e não vem nelas nenhuma beleza, nada a ser admirado ou desejado. Pelo contrário, quando essas pessoas olham para a vida de alguns cristãos elas dizem “graças a Deus eu não sou cristão”.

Eu me lembro que, antes do meu encontro com Cristo, eu pensava da mesma forma. Eu me relacionava na escola com pessoas evangélicas e apenas uma tinha algumas posturas que eu admirava. Lembro-me de um rapaz crente que eu o admirava por sua ética, honestidade e coragem de viver de maneira coerente com suas crenças. Mas, era uma pessoa muito séria, que não se relacionava muito com os outros e me parecia alguém sem alegria de viver. Lembro-me de outro, um sujeito arrogante e sarcástico, alguém que tratava os outros com menosprezo e desdém, era odiado pela classe. Lembro-me também de algumas moças com problemas emocionais devido a uma vida dupla, na igreja cumpriam todas as regras, mas na escola tinham vergonha da sua condição de cristãs. Tudo isso fazia com que eu olhasse para o cristianismo e dissesse: “Deus me livre”.

É uma verdade que a fé das pessoas não pode se basear em homens, porém quando as pessoas não conseguem ver nos cristãos os benefícios que a vida com Cristo traz, a conclusão óbvia que elas chegam é que elas não precisam de Jesus, que a vida delas pode ir muito bem, e até melhor que a dos cristãos, pelas suas próprias forças. Jesus é rejeitado porque a vida daqueles que se dizem seus discípulos leva os outros a pensarem que o mestre não é tão bom o quanto dizem.

Jesus foi glorificado pela confissão e pela entrega do ladrão na cruz

Em meio às vozes de condenação e desdém, uma se levanta na direção contrária. É a voz de um bandido condenado por seus crimes, e para estar na cruz, deveriam ser crimes graves. É a voz de um bandido que, na presença de Jesus, tem os seus olhos abertos para ler com clareza aquele momento.

Ele sabe quem ele é, um malfeitor, alguém que sabe que merece aquela condenação. Ele sabia também que seu maior problema não era o sofrimento e a morte na cruz, mas era o seu encontro com Deus. Ele, provavelmente, sabia que iria se encontrar com o justo juiz, aquele que julga vivos e mortos. Ele sabia que Deus iria cobrá-lo pelos seus crimes, e que ser condenado por esse Deus era infinitamente pior que ser condenado pelos homens. Isso é o que a Bíblia chama de Temor de Deus.

Mas, ele sabia também que estava diante daquele que podia salvá-lo. Ele repreende o outro bandido, admirado e indignado com a tamanha cegueira daquele que insultava Jesus: “Nem ao menos nessa hora você teme a Deus?!”.

Sua oração é singela, quase que acanhada, como alguém que pede por algo que sabe que não merece receber: “lembra-te de mim quando entrares no teu Reino”. Uma oração de entrega, ele estava confiando seu destino eterno nas mãos de Jesus. A resposta dele é “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”.

Aquele homem glorifica a Jesus na medida em que ele se confessa um criminoso merecedor de condenação, e entrega sua vida nas mãos dele.

Jesus é glorificado quando seu povo é capaz de se declarar pecador e dependente da Graça de Deus.

Hoje acontece da mesma forma, Jesus é glorificado na medida em que os seus discípulos são capazes de se declarar pecadores e dependentes da Graça de Deus.

Quando falamos em vida bonita e atraente, temos a forte tendência de associar isso à perfeição, ou seja, pessoas que nunca se irritam no trânsito ou em casa com a família, pessoas que nunca sentem vontade de se divorciar, pessoas que nunca ficam tristes com os problemas, que sempre sabem os que fazer com os filhos, etc.

A própria Bíblia diz que, por mais que seja uma meta a ser perseguida (Mt 5:48), é impossível sermos perfeitos enquanto neste mundo, pois temos dentro de nós uma natureza que nos faz desejar intensamente tudo aquilo que é contrário à vontade de Deus (Rm 7).

Diante da impossibilidade da vida perfeita, muitos cristãos têm optado pelo caminho da falsidade, ou seja, querer passar para os outros uma imagem de perfeição irreal. Nesse processo a energia gasta é tão grande, que tem gerado pessoas emocionalmente doentes. Lembremos que “loucura” é a falta de conexão com a realidade.

As pessoas não cristãs conseguem enxergar isso, a falsidade, até porque muitas delas vivem assim. Vivemos num mundo que não acredita mais em pessoas perfeitas, vide os desenhos modernos de super heróis. Mas, quando elas encontram discípulos de Jesus que se apresentam como pessoas tão pecadoras como elas, mas que encontraram em Cristo, e através da sua igreja, o amor, aceitação e apoio, elas se sentem atraídas a conhecer o Deus dessas pessoas.

Fico imaginando se, por exemplo, Sônia e Estevam Hernandes, ao invés de adotarem essa postura de perseguidos pelo Diabo, percebessem o tratar de Deus em suas vidas e confessassem e se arrependessem dos seus pecados como isso faria bem para eles, para a sua igreja e para o avanço do evangelho.

Conclusão

A Bíblia diz que os cristãos são poemas de Deus (Ef 2:10). Logo, dependendo de como for o poema, o autor é glorificado ou rejeitado.

Jesus é glorificado não quando tentamos esconder que somos “pó do mesmo chão”, quando tentamos passar uma falsa imagem de que somos perfeitos. Ele é glorificado quando o seu amor fica evidenciado em nós.

O amor dele fica evidente em nossas vidas quando fica claro o quanto não merecemos esse amor, mas que, mesmo assim, somos amados e acolhidos por ele, e, em resposta a esse amor, procuramos viver de maneira que o agrade.

Esse amor também fica evidente quando tratamos os outros com o mesmo amor que ele nos trata. Um amor que acolhe pessoas e as convida a mudar de vida.